
O Hino Cotidiano (Gabriela Mistral)
Data 04/08/2015 12:05:45 | Tópico: Poemas -> Reflexão
|  Neste meu novo dia que me concedes, ó Senhor, dá minha cota de alegria, faz com que eu saiba ser melhor.
Concede-me o dom da saúde, a fé, o ardor, a intrepidez, o séquito da juventude; e a colheita da verdade, a reflexão, a sensatez, séquito da maturidade.
Serei feliz se, ao fim do dia, um ódio a menos eu sentir; e se mais luz meus passos guia e um erro a mais eu extinguir;
se, com minha descortesia ninguém suas lágrimas verteu, e se alguém recebeu a alegria que meu carinho ofereceu.
Cada queda, seja onde for, que me ensine a reconhecer todo tropeço enganador que a vista ruim não soube ver.
E com mais força eu me incorpore, sem protestar, sem blasfemar; E minha ilusão a senda doure E que esta senda eu possa amar.
Que eu dê a soma de bondade, de atividades e de amor que a cada ser se manda dar: soma de aromas para a flor e de alvas nuvens para o mar.
E que, enfim, o envaidecimento em sua grandeza material, não me leve até o esquecimento de que sou barro e sou mortal.
Que eu ame a todos neste dia, que a todo custo eu ache a luz. Que eu ame o gozo, e a agonia, e a provação de minha cruz! Gabriela Mistral (1889-1957), poetisa chilena e Nobel de Literatura.
Imagem: Henry Bacon (1839 – 1912, American): The doctor
|
|