
A NINFA - coroa de sonetos
Data 01/09/2015 11:34:02 | Tópico: Sonetos
| A NINFA - sonetos geratriz
Fala para esquecer o amor e ser... Ainda que o amor seja algo que exista, Por difícil e raro, sempre dista De quem ainda espera acontecer.
Se um sorriso é mais fácil de ter Quando flertando vã em plena pista, Para a noite outra roupa então se vista No afã de mais e mor se parecer.
Porque o corpo desnudo bem revela Uma verdade um pouco mais bonita, Que a de quem nunca a nada se permita.
Ela fala e eu a escuto porque bela. Como mentira muito bem contada, Diz quase tudo, mas é quase nada.
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A NINFA - soneto primeiro
Fala para esquecer o amor e ser Amante pelo instante vão d'um gozo. Conta-me o quanto amar é perigoso E nos meus braços quer só se aquecer.
Aconteceu d'eu vir-lhe a bel-prazer. Conquanto fosse um pouco embaraçoso, Pois, nem namorado e nem esposo D'essa extremamente ávida mulher.
Porém, abandonada nada estranha: Tem p'ra si que ciúmes e ilusões Só têm entorpecido os corações.
Certa que em seu jogo ela é quem ganha, Já parte para a próxima conquista, Ainda que o amor seja algo que exista.
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A NINFA - soneto segundo
Ainda que o amor seja algo que exista, N’algum vago recôndito da gente. E não aquilo que ela, ardentemente, Busca na noite só, fazendo pista...
Querendo desde a vã primeira vista Se entregar sem que nada lhe acrescente, Tem a exacta medida do que sente De dor e prazer n’uma impressão mista.
Deitamo-nos cansados. Sós, enfim: Estapeia minha cara de desejo Enquanto me dá a outra face ao beijo.
Nada há para ela aqui. Nem para mim. Não se aproxima mais, se amor à vista: Por difícil e raro, sempre dista...
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A NINFA - soneto terceiro
Por difícil e raro, sempre dista O luar nascente quando subo um monte: Chegando ao topo, longe no horizonte O que supunha perto e tinha em vista!
Ela -- como luar a olho nu – conquista. Contudo, não importa onde desponte: Uma hora me parece quase à fronte E após se distancia algo intimista...
Bem amiúde a toco mais profundo... Sinto-a desabrochar feito uma flor E grata me agradar com mais ardor.
Ela tem medo, como todo mundo. Afasta-se p’ra nunca se perder De quem ainda espera acontecer.
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A NINFA - soneto quarto
De quem ainda espera acontecer, Se escuta muitas vezes fantasias. São relatos que aquecem noites frias Dos que às escuras vêm se conhecer.
Assim vão re-encenando sem saber Essa comédia de erros e agonias A quem chamam de encontro... Onde apatias São bem escaramuças do prazer.
E seguem partilhando vãos assuntos, Porque dois solitários enfim juntos Não são nunca o casal que intentam ser.
Sim outro paraíso artificial Do sonho que pretende se ver real Se um sorriso é mais fácil de ter.
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A NINFA - soneto quinto
Se um sorriso é mais fácil de ter Enquanto se está de olhos bem fechados Beijando loucamente homens errados Ou explodindo de prazer outra mulher...
Como um fim em si mesmo, o seu prazer A impele a seduzir desesperados: Quem -- alheio a futuros e a passados -- Apenas o presente quer viver:
--“Afinal, de que serve ser bonita, Senão pela promessa sempre adiada D'um pouco de prazer e após mais nada?”--
Outra bela mentira que acredita Quem quiser... Se não há quem lhe resista Quando flertando vã em plena pista…
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A NINFA - soneto sexto
Quando flertando vã em plena pista -- Ainda mais bonita que já é...-- Seu olhar faiscante pode até Derreter o mais frio narcisista.
Quem na arte de amar uma boa artista Sabe se projetar ao olhar com fé E desinibição... E bate o pé, Marcando o território da conquista.
Despe-se totalmente enfeitiçante Aos olhos que, experientes ou nem tanto, Soubera cativar com seu encanto.
Mas partir sempre é mais interessante: Para o dia, esse amante já despista; Para a noite, outra roupa então se vista.
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A NINFA - soneto sétimo
--"Para a noite outra roupa então se vista Tanto p'ra caçar quanto p'ra ser caça. Pois dizem haver fogo se há fumaça E paixão desde à vã primeira vista.”
"Portanto, na impressão do início invista Aquela que quiser com sua graça Despertar um desejo que perpassa Toda a aura reluzindo sensualista.”
"Cuidado, porém: tudo é ilusório! É preferível ir quando se pode; Sempre antes que a rotina lhe incomode."--
Não importa se dândi ou se finório... A seu lado terá sempre um qualquer, No afã de mais e mor se parecer.
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A NINFA - soneto oitavo
No afã de mais e mor se parecer, Ela quer não o amor, mas sim amores: --"Desejada a mulher cujos primores Estejam na postura que ousa ter!”
"Nada -– diz ela -- vai acontecer A quem espera príncipes, senhores, Ou apenas homens um pouco melhores Que aqueles que costuma conhecer."
Concorde à sua vã filosofia, Ela diz desconfiar de tudo e todos E nunca se arriscar em vis engodos.
E a esplêndida nudez que oferecia Tinha a verdade honesta de ser bela, Porque o corpo desnudo bem revela...
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A NINFA - soneto nono
Porque o corpo desnudo bem revela Exacto quanto d'alma mal se oculta. Desconhecer-se é típico de estulta Mentalidade em íntima procela...
Assim, quem o prazer à culpa atrela Uma alheia alegria já lhe insulta. Hipócrita, o culpado apôs se indulta De faltas cometidas junto d'ela!...
E ria às gargalhadas dos coitados Que a desejando a julgam n'um complexo Onde se adora amor e se odeia sexo...
Murmura de amargura:--"Recalcados! É bem mais fácil ter, se se acredita, Uma verdade um pouco mais bonita".
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A NINFA - soneto décimo
Uma verdade um pouco mais bonita, Que outras tantas verdades d'essa vida: --“O indiferente rápido se olvida, Mas se surpreende só um tolo evita!”
“Se apenas diversão, nada conflita. Como se come a fruta oferecida... Assim recebo e dou quando escolhida Ou quando escolho quem me atrai e irrita.”
“Ser livre é não estar nunca obrigada!” -- Eis a definição de liberdade D’aquela que se quer em igualdade.--
--“Porque homens e mulheres não são nada Além de humanos... Creio menor desdita, Que a de quem nunca nada se permita.”
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A NINFA - soneto undécimo
Que a de quem nunca nada se permita N'uma vida de dúvidas e esforços. Prefere ela admirar peitos e dorsos Nus e na posição que mais a excita...
Cansada de ver gente triste e aflita De tanto acumular novos remorsos, Busca esteticamente por estorços Que em nua pele mais o olhar incita.
A beleza e o prazer que após promete Mantêm na novidade um interesse Que apenas com surpresas permanece.
E apontando-se, por fim reflete: --"Esta zinha aqui não é pior que aquela!..." Ela fala e eu a escuto, porque bela.
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A NINFA - soneto duodécimo
Ela fala e eu a escuto, porque bela E é tão bom de escutar ela falando!... Eu chego a devassar, de quando em quando, O seu olhar que d'alma é qual janela.
Eu fico olhando para dentro d'ela Enquanto, atento, vou lhe escutando. Percebo-a contar n'um tom mais brando Das coisas que n’alcova se revela.
Às vezes, seu olhar uma fagulha Solta que me atravessa inteiramente E me faz suspirar à sua frente.
Do que outrem se envergonha, ela se orgulha! Pois vê a vida -- metade já de nada -- Como mentira muito bem contada.
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A NINFA - soneto tredécimo
Como mentira muito bem contada, Lhe escuto o arrazoado e lhe pondero, Que metade de nada não é zero; Que, só e simplesmente, nada é nada!
Mas ela me argumenta:--"Conta errada! A vida, por vazia, no exagero Tem a única grandeza que enumero Cuja metade fora computada".
"É a quota de prazer que nós todos Nos permitimos quando o corpo pede Seja isso cio, sono, fome ou sede".
"Por isso me saciei de muitos modos A despeito do fado e até da estrada"-- Diz quase tudo, mas é quase nada...
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A NINFA - soneto quatridécimo
Diz quase tudo, mas é quase nada: --"Isso de se saciar o corpo apenas Não muda o facto que horas mais amenas" -- Digo-lhe -- "tens enquanto estás saciada.
"Não demora muito e outra colherada... E outro copo... e outra cama... e outras morenas... Nossas necessidades são cadenas Tão resistentes quanto uma forjada."
"Tenho buscado o amor sem saber onde... E essa ânsia toda muito pouco visa Sempre é mais livre quem menos precisa".
"Sexo 'inda é amor..." E ela me responde: --"Amor? Já nem sei o que isso quer dizer!" Fala para esquecer o amor e ser...
Contagem – 20 03 2014
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