Onde trabalho o Guaíba é a minha paisagem Tem dias que esse rio com sua mansa passagem parece uma estrada azul convidando a uma viagem
Se minha sala não tem de Monet nenhuma tela eu posso ver navegar um suave barco a vela que aparece de repente na moldura da janela
No fim da tarde o sol espraia a sua beleza quando vem se contemplar no espelho da natureza e um poente mais bonito não foi pintado em Veneza Nossa capital cresceu sugere a geografia na banda leste do rio só pra ver a poesia dessa luz crepuscular diferente a cada dia
É o pôr-do-sol no Guaíba um momento especial Eu não me canso de ver no cenário fluvial um matiz alaranjado que nem parece real
Mas passou o rio do tempo numa corrente furiosa trazendo a degradação de maneira vergonhosa e a água que era doce foi ficando amargosa Quando ainda era limpo naqueles tempos de antanho as suas águas saudáveis eram próprias para o banho e a vazão de poluentes foi um erro sem tamanho
Afluentes de detrito nosso rio agora tem Jacuí, Gravataí, Sinos e Caí também desembocam no Guaíba os rejeitos que contém
Esgotos são o veneno injetado em sua veia Na vazante o rio fede ficando escuro na cheia e nas margens onde passa devolve o lixo na areia
E esse lixo derramado no seu curso caudaloso vai deixando o pescador cada vez mais mentiroso o seu peixe mais escasso e o povo mais saudoso
E devido a nosso rio reter a cada momento avalanches de sujeira sem que haja escoamento é chamado pelo povo de esgoto ao relento Diverso daqueles mares que desde remotas datas esconderam no seu leito os tesouros dos piratas nosso rio só acumula pneus, garrafas e latas Estudiosos discutem se o Guaíba é rio ou lago No campo da hidrologia meu conhecimento é vago Não aceito é que tenha esse destino aziago
No entanto estamos vendo que indústrias da capital não resolveram problemas de impacto ambiental e a cidade está perdendo o seu belo manancial
As águas são balneáveis somente em Itapuã As iniciativas são Pró-Guaíba e Fepam mas sem controle na fonte toda esperança é vã
Um limpando e dez sujando é agora um triste fato Vamos ver se não houver um controle imediato se transformar o Guaíba em um caldo putrefato
A cidade Porto Alegre abraçada em sua curva no caos da modernidade deixa sua água turva e diante do progresso a capital se recurva A cidade está matando o seu primeiro amigo Nosso rio está morrendo sem merecer o castigo e o curso das suas águas é o seu próprio jazigo As garças passam voando serenas e elegantes e descendo vão pousar lá nos aguapés distantes sem saber que o Guaíba já não é mais como antes
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