A roupa nova do imperador
Data 04/09/2015 20:36:39 | Tópico: Poemas
| Havia um imperador que era vaidoso demais Só amigo do espelho e dos seus trajes reais No quesito elegância não aceitava rivais
Tinha um traje garboso pra cada hora do dia Gastava muito dinheiro com as roupas que vestia Aumentar seu guarda-roupa era sua primazia
Pra torneios ou teatro atenção ele não dava Por passeios ou festejos ele não se interessava a não ser que desfilasse com as roupas que usava
Nunca estava no seu trono nem reunia o conselho Só tomava as decisões na frente do seu espelho Tão vaidoso como ele não havia um rei parelho
Mas vamos deixar o rei com a sua vaidade e também os cortesãos bajulando a majestade pra falar dos forasteiros que chegavam na cidade
Era o povo deste reino de usos hospitaleiros Sempre amistosamente recebia os forasteiros Mas um dia ali chegaram dois sujeitos estradeiros
Eles afirmaram ser cada qual um tecelão e para fazer os trajes da sua confecção só teciam um tecido de formidável padrão
Um tecido que os tolos e orgulhosos do lugar ou os desqualificados pra um cargo ocupar sua textura e cores não podiam enxergar
- Os trajes que eles fazem (pensou o imperador) pra avaliar os outros serão de grande valor Dos tolos e inteligentes eu serei descobridor
E até dos orgulhosos que estão no meu reinado Vou ver em cada função quem não é qualificado Mas quem merecer ficar continua do meu lado
Convencido que o traje teria grande valia foi pagando adiantado uma enorme quantia para eles trabalharem já naquele mesmo dia
E aqueles vigaristas pra fazerem o tecido pediram linha de seda e fio de ouro comprido mas tudo que receberam foi por eles escondido
Porque o trabalho deles era tudo fingimento Num tear todo vazio em pleno funcionamento acionavam os pedais simulando movimento
Os dias foram passando e o rei já ansioso para ver aquele traje que o deixaria garboso quis saber como andava o trabalho engenhoso
- Para não correr o risco de enviar algum bobão vai o primeiro ministro lá fazer a inspeção pois ele sabe exercer muito bem sua função
E assim foi o ministro para ver a tecelagem e contar ao soberano se essa nova roupagem estaria na altura de sua nobre linhagem
Mas ele ficou surpreso com o trabalho que viu Os impostores tecendo num tear todo vazio com lançadeira puxando de um novelo sem fio
E para o velho ministro pediram os tecedores que falasse do desenho e das variadas cores no tecido estupendo do qual eram criadores
Como não estava vendo nem as linhas nem o pano ficou com medo que os dois delatassem ao soberano pois poderia perder o seu cargo palaciano
Pra não ser questionado sobre o seu desempenho mentiu aos teceladores que era lindo o desenho e nas cores do tecido mostravam o seu engenho
Então eles explicaram os detalhes do tramado com as cores muito vivas e o desenho complicado Da costura que faziam pelos dois foi informado
Tudo que eles disseram ele ouviu com atenção depois repetiu ao rei toda aquela explicação pra não ser considerado orgulhoso nem bobão
Para apressar o serviço aqueles dois estradeiros pediram para o monarca mais linhas, fios e dinheiro pelo tempo empenhando no trabalho o dia inteiro
Atendendo ao pedido de cada um tecelão enviou pra oficina outro fiel cortesão ordenando que fizesse uma nova inspeção
Os impostores porém já haviam escondido todo aquele material que haviam recebido pra poder continuar o seu trabalho fingido
E aquele cortesão não vendo tecido algum naquele tear vazio pensou sem pejo nenhum que orgulhoso ou bobão poderia até ser um
Ali um tecelador fazendo a encenação pegou parte do tecido pra mostrar ao cortesão que só viu uma agulha e a tesoura em sua mão
Pra não ser denunciado elogiou a costura depois foi dizer ao rei que sua roupa futura seria algo sem par em requinte e formosura
Ali o imperador já bastante entusiasmado também foi ver o tecido pela corte acompanhado e saber se o serviço era mesmo o esperado
Chegando lá no tear espantado viu somente o tecido que pagou invisível num batente que se movia depressa sem ter nada em cada pente
Ali o velho ministro com o outro cortesão que pela ordem do rei tinham feito a inspeção agora em sua presença repetiram a gabação
E como o imperador no tear não via nada nem o pano costurado nem o fio nem a meada decidiu mentir também pra sair da enrascada
Pensando que eles viam a fazenda que não viu para não ser acusado também fez um elogio sem saber que tudo ali não passava de ardil
Ali toda a sua corte pra não o contrariar a fazenda invisível que não viam no tear suas cores e desenhos pegou a elogiar
Aqueles teceladores foram muito elogiados e nos dias que seguiram pelo serviços prestados no salão palaciano foram até condecorados
Foi decidido que o rei na primeira ocasião mostraria a roupa nova numa grande procissão matando a curiosidade de cada um aldeão
E o traje ficou pronto no dia que foi previsto pelos cortesãos do rei pra no desfile ser visto pois em todo o seu reino todos só falavam nisto
Os falsos teceladores levaram o traje novo para o desfile do rei diante de todo povo que o veria elegante e daria o seu aprovo
- Na roupa que nós fizemos não se vê nenhuma falha É leve como a teia que uma aranha faz na galha porém com a resistência de uma cota de malha
E pediram ao monarca que já ficasse despido pois com a ajuda deles ele seria vestido - A nossa satisfação é ver o traje servido
E foram vestindo nele a calça e o camisão o colete e o casaco e com o manto na mão terminaram o teatro da sua simulação
Diante do seu espelho o monarca se mirava A imagem refletida sua roupa não mostrava Mas não quis reconhecer que a roupa não enxergava
E o mestre de cerimônias chegou com uma mensagem Que lá fora esperando já estava a carruagem onde o rei desfilaria com sua nova roupagem
O monarca iludido foi fazer a procissão Sua calda os camaristas recolheram ali do chão carregando para ele sem ter nada em cada mão
Nas ruas já aguardavam os mancebos e donzelas e o povo em geral nas calçadas e janelas curiosos pra saber se as roupas eram belas
Quando o cortejo passou com o monarca despido ninguém quis reconhecer que não via o tecido e gritando exclamavam que estava bem vestido
O monarca ia fazendo um sucesso sem igual As donzelas e mancebos e o povo em geral só faziam elogios para seu traje real
Mas enquanto o cortejo passava entusiasmado um menino que estava do seu pai acompanhado gritou inocentemente que o rei estava pelado
E ouvindo aquela frase pelo menino gritada todo aquele que estava na janela ou na calçada pegou a gritar também que o rei não vestia nada
O monarca ali voltou ao castelo envergonhado reconhecendo que ele tinha sido enganado pela dupla que fugiu com o dinheiro tomado
Foi uma grande lição que aprendeu a majestade Deixou de perder o tempo com sua excentricidade e nunca mais se vestiu com a roupa da vaidade
FIM
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