Embarquei-me nas asas do sol poente

Data 30/09/2015 17:28:49 | Tópico: Textos -> Amor

Acantonado ao escuro do meu quarto, revivia momentos vividos em companhia da minha estimada esposa, lá fora, pululavam pássaros no jardim, onde saboreávamos as brisas matinais do mar, que vinha ao monte purificar o ar e a beleza da Helena, minha mulher.
Nas lindas tardes primaveris, quando o sol se despedia no alto das palmeiras, refugiamos no jardim entre lírios e voos graciosos dos beija-flores, compartilhávamos beijos molhados de amor pela chuva de felicidade que jorrava do baixo céu dos nossos corações.
Hoje, a sós com o silêncio da minha solidão, choro a sua partida para terras do além-mar. Na atribulada partida, ela levou minha alma e no meu coração semeou a dor, que tentava dissipar com o sorriso da gaivota que vinha ao kimbo trazer-me recados da Helena, perdida no longínquo horizonte dos meus dissabores.
Aguardava com expectativa o regresso da gaivota, e dava-lhe uma lágrima de fogo carregada de dor, para que fosse chorada no regaço da Helena que tanto amara.
Nos momentos dolorosos da solidão, choro a falta de encantos que brotavam dos seus lindos e sensuais lábios. Quando lembro dos nossos namoros, ando perdido pelos campos ausentes das correrias, das vozes que me sussurrava ao ouvido, enquanto corríamos pelos jardins repletos de borboletas que pareciam entender as delícias que iam nas nossas almas. Esta felicidade durou vinte primaveras e vinte outonos, desde que descemos do altar do Bom Senhor, de braços dados sob banho de pétalas e repicar dos sinos.
Preocupado com a solidão que assola minh’alma, me embarquei nas asas do sol poente em busca da minh’amada, pisei as terras do além-mar quando o sol, ensonado, foi dormir.
Numa cabana à sul da ilha banhada pelas cristalinas águas do pacífico, estava Helena entretida a lavar lágrimas jorradas no dia anterior, não me vira ao desembarcar, quando levantou o rosto por instinto me viu e desatou a correr de braços abertos em minha direção, eu não sei se voei ou se corri, só me lembro estreitamo-nos num abraço sem fim, sob repetidos beijos de saudades. Ela me enxugou uma lágrima, uma lágrima de felicidade, no canto d’olho que demonstra quão feliz estive naquele momento. Dissipadas as dores, fomos sentar a beira-mar a luz da fogueira. Ao longe ouvia-se o piar da gaivota que nos servia de ponte. Quando as estrelas bocejavam sonolentas, embarcamos no sol nascente de regresso ao nosso doce lar.

Adelino Gomes-nhaca



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