BUENOS AIRES

Data 04/10/2015 08:56:16 | Tópico: Poemas

BUENOS AIRES



no bar plaza dorrego sob os ecos
de sábato e de borges desfiamos
a conversa o café de outrora serve-nos
quiçá de inspiração sente-se o aroma
nos tampos de madeira que preservam
a memória de amores mesmo sendo
somente nomes nomes e promessas
sob o olhar casual de quem os lê
talvez rendido ao jogo que o mosaico
branco e negro sugere ou talvez não

mas lá fora no entanto escuta-se o
bater do coração próprio do bairro
de san telmo e saímos para a praça
por onde o bar bebeu seu nome e a música
mantém-se desenhada na conversa
ao ritmo de diástoles e sístoles
como se piazzolla aqui estivesse
oblivion libertango adios nonino
nos gestos de cada um que nos sorri
vuelvo al sur e a fragrância do mar beija-nos

assim vejo buenos aires mesmo
que não cresça a cabeça como os pés (1)
como canta alfonsina storni mesmo
assim buenos aires é poema
salão de dança pássaro que mesmo
pousado num beiral sabe que o seu
fado é voo esse golpe de asa e canto
cidade em que rendemo-nos ao sonho
de tudo ser possível como se o
tempo aqui fosse só este momento

e compreendo então o que escreveu
roldán também me queimo como um ícaro (2)
blasfemo de arrogância inocente e
sei que a felicidade é um parêntesis
na narrativa oculta que nos legam
talvez por isso colha a cera as penas
e ruma ao sol e escreva a sangue o verso
como se regressasse ao bar e sábato
e borges me dissessem da conversa
da busca da palavra intemporal


Xavier Zarco

Notas:
(1) STORNI, Alfonsina – Buenos Aires. In “Soy una y soy mil”. http://soyunaysoymil.wordpress.com/ 2011/10/23/buenos-aires-de-alfonsina-storni-recitado-por-gloria-ale (último acesso a 06.09.2014).
(2) ROLDÁN, Carlos Alberto – Poesíada, Editorial El Escriba, Buenos Aires, Argentina, 2007, p. 12.


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