
EPÍSTOLA A AFONSO LOPES VIEIRA
Data 05/10/2015 08:37:50 | Tópico: Poemas
| EPÍSTOLA A AFONSO LOPES VIEIRA
escrevo-te afonso lopes vieira à beira deste mar que como poucos soubeste cantar
e sinto que o mar chora tal como o disseste ao ritmo do meu sangue
não sei afonso se deva perguntar ao mar quantas lágrimas como pessoa o fez de portugal são o seu sal
não sei
sequer sei se pergunta alguma cabe num verso onde a palavra mar resista com a palavra português
confesso a minha ignorância
mas afonso se te escrevo à beira deste mar que nos pertence por que não dizer da alma que o habita
por que não pergunto a ti afonso que o cantaste e a mim que o escuto agora aqui no verso desta epístola
será preciso um olhar estrangeiro para nos dizer tal como o do mello mourão que o mar foi por nós inventado
bem sei vê-se melhor de fora do que dentro sei-o bem bem demais ou não fosse o poeta um eterno exilado
e agora afonso o que nos resta esta europa desenhada a catorze estações sem esperança sem uma décima-quinta que nos diga da ressurreição ou seja somente isto há amanhã
não afonso e tu sabes como o sabes do canto do verde pinho que dom dinis cantou
e como o sabes
desse canto candeia de futuro do batel caravela nau que existe dentro do canto
porque há um caminho uma índia outra a demandar
tu sabes e por isso tu cantas este mar nosso de cada dia
porque sabes afonso que nós somos como o poveiro dito por brandão só não vamos ao mar quando a morte é certa
e mesmo assim nós vamos sempre vamos
Xavier Zarco
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