Balada do navegante – parte II

Data 20/10/2015 12:51:33 | Tópico: Poemas

"... por vezes estão os pensamentos tão irreais.
sequer uma visão do ocaso me é de direito..”

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- Balada contemplando círculos concêntricos
num espelho de água – parte II
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No lago, à noite, não posso ver as espirais
e na proa estreita o firmamento espreito;
por vezes estão os pensamentos tão irreais.
sequer uma visão do ocaso me é de direito
Marinheiro sem norte, ledo o olhar espicho,
buscando na visão do Cruzeiro(1) um conselho,
enquanto a aragem com mesmo capricho
acaricia o ônix da superfície do espelho.
O lago e as ondas em espirais tão vivas,
continuam sempre abaixo de mim, ativas.

Flutuo sobre elas, emoções tão sensitivas,
sem controlar os sentimentos cautelosos,
estou no topo observando as iniciativas
das ninfas invisíveis e narcisos orgulhosos.
Quando as ondas quase hipnotizam os olhos,
confundindo rochas e eucaliptos com areia,
percebo os túmulos frios entre as abrolhos,
enquanto acorde de funesta marcha harpeia.
Esquálidos sátiros mancos, quais saltimbancos,
macabros seres quebram o ritmo com solavancos.

Minha alma é simples, plana na brisa cálida,
levando-me ao alto de íngreme penhasco hostil,
de onde apesar do perigo iminente, da luz pálida,
posso ver na noite branca acoitada num covil.
Sobre os bosques de eucaliptos, meio à cerração,
no lago silencioso o vento da noite diligente em rondas,
balançando com vigor a frágil embarcação,
alterando por momentos a frequência das ondas,
mas as espirais continuam claramente refletidas
infinitas vezes no espelho líquido reproduzidas.

Abaixo da areia há a solidez do fundo de basalto,
leito seguro tem coberto por areias e algas um ressalto;
quem olha para mim das margens sem sobressalto,
vê-me marujo ansioso lançando cuidadoso o varejão
perscrutando o fundo arenoso a procura de um desvão.

20102015
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(1) A constelação do Cruzeiro do Sul



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