Soneto vendo sóis

Data 31/10/2015 20:02:02 | Tópico: Sonetos

“ Caminha, alçando-a pela coma espessa,
Da mão pendente a modo de lanterna:
Gemendo, os olhos seus nos endereça.
Servia ele a si próprio de luzerna,
Eram duas em um, era um em duas:
Como ser pode, sabe o que governa.”

A Divina Comédia – Canto XXVIII





Foi sobre os ombros como queria, e espreita o lugar,
ledo momento principal quando as asas foram abertos,
cadenciada a respiração pesada, impotente só a arfar,
perseverar ali firme, porque temos escalas assertas.

Agora e muito além, centro do mundo, da dor eterna,
ao sair pela boca como precipitado de alto penhasco,
dos vermes, qualquer parte, atrair, espocar luzerna,
fez bem aqui na terra quando fixou os pés com asco.

A derme maciça de espessura rebate agora que fui,
era nosso longo caminho sem sol, para vir para o meio,
se estivemos em palácios, templos alta muralha rui.

Mas, enquanto descia, foram para sempre os arrebóis
como em poços de lava e enxofre fervendo entremeio,
antes de sair para o Inferno, aprenda a ver esses sóis.






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