Do amor proibido ao casamento abençoado

Data 03/11/2015 11:39:28 | Tópico: Textos -> Amor

Era uma tarde primaveril, o sol queimava de manso no alto da serra. A pequenada andava entretida com o voo dos pássaros, que traçavam círculos graciosos no céu pouco nublado. Aos poucos os pássaros se foram desaparecendo, o sol ganhara a tonalidade de fogo. Peguei no braço da Marta, minha esposa, e fomos sentar ao tronco duma árvore, fazia frio, ela encostou a sua cabeça ao meu peito, enquanto observávamos o colorido pôr-do-sol.
A marta não tirava olhos do horizonte prateado do entardecer, instintivamente afagava-lhe cabelo enloirado pelos raios do sol-poente. Ora olhava para mim com olhos semicerrados, ora cantarolava canção da nossa infância, ela estava tão emocionada quanto eu, pois essa canção nos tocava muito, ela é da família média-alta e eu um pobre aldeão. Os pais dela não se conformavam com nosso namoro, mas o coração dela falara mais alto, e sempre que escapava à vigia cerrada dos pais, vinha ter comigo à aldeia. Íamos dançar numa pequena discoteca de N’hô Joaquim, ao som da música dos anos setenta, entre muitas que ali se ouvia, quedávamos mais para “ala dos namorados”, e era esta música que ela cantarolava naquela tarde no alto da serra.
A tarde ia alta, abandonamos nosso ponto estratégico de observação à pura beleza da natureza e fomos buscar as crianças que estavam entretidas à contar estrelas que apareciam no límpido céu.
Ao caminho da nossa humilde casa, perguntei à Marta se lembrara do número das primaveras passadas após nosso casamento;
-trinta!- respondeu ela prontamente, depositando beijo na minha esguia face.
-é verdade, minha querida, hoje perfaz trinta anos em que recebemos bênção dos teus pais no altar da igreja de Santa Caterina.
-e dos teus também!- lembrou ela, rindo.
Abraçados, adentramos no nosso modesto lar, levamos as crianças para seus respetivos quartos e antes de dormirem, receberam beijos duplos repletos de ternura.
No dia seguinte, era domingo de páscoa, de braços dados subimos ao alto do monte para colher flores, enquanto a pequenada ainda dormia.
No alto da serra, o sol acordava aos poucos e com ele os girassóis se abriam para primeiros beijos de beija-flores. Andávamos silenciosos pelo monte para não afugentar vaga-lumes que se despediam do dia.
Nas copas das frondosas árvores, ouvia-se o piar do mocho que assustara a Marta, trémula veio aninhar-se nos meus braços.
-o que era aquilo?- quis ela saber
-é o piar dum mocho que reclama com o desvanecer da madrugada.- respondi, enquanto passava meus dedos pelos seus lábios húmidos, fitou-me com olhos candentes de amor, rodeei meus longos braços na sua delegada cintura e beijomo-nos perdidamente, passou o susto, colhemos as flores, entre lírios e rosas e, abraçados como sempre voltámos sorridentes ao nosso doce lar.

Adelino Gomes-nhaca



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