Congresso Internacional do Medo (Carlos Drummond de Andrade)

Data 08/11/2015 13:01:37 | Tópico: Poemas -> Intervenção


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), In: Antologia Poética – 12a edição - Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, ps. 108 e 109) .

Arte: Oleg Shuplyak, surreal painter.



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