Um cão
Data 29/12/2006 15:30:00 | Tópico: Textos
| Sento-me por sobre a rede Colocada na varanda, donde não há mágoas Após uma longa estada em meu quarto Depois de atracar-me com meus estrovos Dado a vertigem que me acomete Peguei-me a ver o meu cão, sujo, molhado fidedigno de meu carinho Alheado, ao mal cheiro, amarrado ao quintal Sua morada, velha, com uns restos de sarrafos Que sobrou-me após um caixote quebrado Tido em seus instintos, deparei-me a me perguntar: Caso pudesse dizer-me algo, queixarias deste estado? De certo que tendo, pouco, sendo amigo, ainda que sujo Ao quintal, comendo apenas a ração que lhe é propícia Talvez não de toda propícia, mas que lhe é dada. Lembro-me que ao pega-lo, ainda pequeno, Jurei cuida-lo, pois tomei-o ainda a mamar Na cadela, sua mãe, Ao inicio, choravas num sem termo Em desafeto, por isso, movido de um esto Batia-lhe, olhava-o enfurecido, Não me inquietava com tal ausência Ou carencia de afeto. Deprezei-o por várias vezes a pensar em tudo que me cercava E por almejar, por vezes, em lampejos, Ter um pouco á mais que esta sofrível vida oferece, talvez Ter um amigo renomado, com contatos, á me proporcionar luxúrias, Talvez com um carro importado, ou apenas um amor, uma maldita, mas apenas uma. Assustei-me ao tornar a varanda Deparei-me comigo mesmo ao perceber Que por momentos, fiz-me cão Dado as migalhas, que por pena, Um dia jogaram,empardeceu-me Com promessas, instigadas por um dono "amor" Ou cuidado, que ao me ver afagado, tomaram-me Percebi o quão mediócre sou Dado a alimentar-me do proprio vômito Que tendo desprezo A balançar o rabo, Pelo carinho que me negam.. A viver daquilo, que há tempos Já foi de todo esquecido, malogrado. Tangindo as pulgas lembranças que me sugam Percebi o que ao meu-eu cão foi dado Um companheiro nas horas que se deseja Abjecto, na horas que não se carece. Talvez seja essa a sina. Um cão, que sendo chamado de "amigo" Jamais se tornaria companheiro... Um cão, Pobre cão.
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