pássaro depenado

Data 29/01/2016 19:50:06 | Tópico: Poemas

quem sabe,
já não serei eu a cantar-te de infinitos
eu que tanto somei saudade e águas furiosas

mas quem senão eu
que aprendi a chorar-te
os golpes com que me beijavas

eu que bebi da tua boca
a glória com que morrias
só porque me matavas

e eram mortes tão certas

eu que mastiguei
os teus vícios de pássaro bravo
nas entranhas de pedras e precipícios.

como é dura esta certeza de alegres memórias
que já não tenho nem alcanço
pomba triste de novas sem novidades,
porque as palavras estão mortas.

ah, se soubesses onde pus os poemas
como os baralhei para os enganar
se soubesses como as palavras sofrem
de cegueira, surdez e febre alta
na garganta funda do esquecimento.

talvez visses de verdade.

e, se eu já não vejo nem se estás morto
o que é que me falta?
meus olhos que amor ceifou?
ah foi só o vento que passou e mos levou.




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