TRISTE ALENTO
Data 03/02/2016 22:43:05 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| TRISTE ALENTO
Pai, quando os meus pés Não mais levantarem poeira Neste árido chão E minha voz, não mais singrar o espaço A se perder no azul do céu Não me busque no horizonte Nem no burburinho da multidão Tampouco nas nuvens Que passam sobre sua cabeça
Encontre-me na luz derradeira De qualquer pôr do sol Ou no quedar silente, da vil solidão Mas, não murmure meu nome, assim à toa Nem diga que fui a melhor pessoa Mas se minha ausência te doer Grite bem alto Aos quatro cantos do mundo Que meus olhos guardavam Todo um mar de pranto Tão doce e fugaz, leve e inocente Que de gota a gota, foi-se no vento Pai, diga a qualquer transeunte Que minha boca era Uma caverna amarga E os meus dentes, estalactites E estalagmites esculpidas Pela precisão do acaso Diga tudo enfim Que ainda não foi dito Diga que o meu grito Era um eco fúnebre E que minha língua Era um dragão lúgubre Que flutuava nas brumas do absurdo
Diga pai Que meu estômago Era gaveta pública Para guardar fome E projetos políticos.
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