
Espectáculo
Data 15/02/2016 01:42:20 | Tópico: Poemas
| Fecha a cortina, arrumam-se as partituras,desmonta-se a estante, recolhe-se o espigão, desaperta-se o arco, ensaca-se o violoncelo, enrola-se a fita da guitarra, coloca-se na caixa, segura fecha-se o tampo, encerra-se o teclado, sai-se carregado de emoções ainda tensas.
Fecha-se o livro, guarda-se a caneta, arruma-se o papel, tira-se o guarda-roupa, organizam-se os acessórios, limpa-se a maquilhagem, coloca-se creme na face, veste-se o casaco, fecha-se o camarim
A cabeça ainda noutra personagem dói, os ouvidos ainda sentem o eco das melodias a voz ainda sente as cordas vocais quentes de tanta palavra, declamações, entoações
Sente-se uma mescla de odores adocicados de perfumes raros, femininos, sente-se a vibração dos aplausos um ramo de flores na mão levamos
Mas o melhor de tudo é ver-te à minha espera, jantar nesse sossego dos teus olhos ouvir a tua voz, sentir a tua mão, voltar a casa e, no silêncio da noite, acordar a madrugada em terna dança
Fecha-se o pano, a cortina, agora a história é só nossa, em que somos os actores e artistas principais e nessa intimidade fazemos a nossa peça que a manhã solarenga aplaude em cantos de pardais
Delfim Peixoto © ®
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