Um coração vítima de ameaça?

Data 20/02/2016 22:49:38 | Tópico: Poemas








Há nuvens e um homem segura a rocha na ponta da corda,
nada mais há no enredo da gravura em tons tão escuros;
na pedra à beira do abismo parece que de suor transborda,
ali sustenta extenuado talvez um coração em apuros.

Há tantas nuvens escuras num céu cinzento como fumaça,
cena sem árvores, nem vida, em tons cinza mais de cinquenta.
Posso livre supor que a rocha é um coração vítima de ameaça,
chegou de canoa furada fugaz fugindo célere da tormenta,
gerada do gás das chamas roxas do último arrebol boreal.

Na ponta da rocha completa a cena insólita aquele camarada,
do alto do mirante esqueceu a máscara contra o gás letal,
hercúleo esforço o extenua e faz ter a camiseta encharcada.
Lavou-se com água fervente, bebeu uma caneca de fuligem,
antes atravessou a pé toda a crosta azul de gelo espumante;
pois escalou a Tarpeia, chegou ao topo sequer com vertigem,
lépido e guiado que foi até lá por uma estrela brilhante.

Mas se me apeio do lírico e bem observo a gravura mostrada,
fico na dúvida se ali há um coração e obstinado eu cismo:
- É só mesmo uma rocha na ponta da rocha sendo arrastada,
ou será que está sendo contida para que não caia no abismo?


Poema participante do evento “ Poesia sobre Imagem”, do site “ Casa dos Poetas e da Poesia” , classificado em 2º lugar em 19/02/2016.







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