À janela uvas passas

Data 26/02/2008 21:44:33 | Tópico: Poemas -> Surrealistas

À janela uvas passas
olhavam desmedidas p’las nervuras das parras de figueiras
caídas lentas,
ronceiras,
por sobre o chão aveludado p’las entranhas do arado.
[Era o Outono das águas a escorrer-se madraço no zinco aceso das caleiras].

Um passo em frente
e outro, já recuado, e logo o gato saltava lépido o vermelho dos beirados
num compasso d’antanho e na firmeza de que não havia ali
nem alma
nem gesto (pequeno ou tamanho)
nem bafo (doce ou agreste), sequer que fosse, de ser vivente.

À janela costumeira
dependuravam-se harmónicas de ventos por fios assexuados,
se lâminas d’águas eram, dos olhos, grossos bagos.



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