O grande caderno azul - LXV

Data 15/04/2016 15:57:07 | Tópico: Textos

XLV

Seis e vinte de terça-feira, décimo oitavo dia do segundo mês do ano dominni de 2014 - Tempo fechado, chove incessantemente desde a madrugada.Isso é ruim para os negócios, atrapalha todo mundo.O estômago ronca de fome, não merendei ontem a noite. Deite-me cedo, as nove e meia depois do Jornal Nacional - pesadelo dessa caixa caixa d'agua desabar e causar prejuízos. Mas Deus é bom! Um sonho encabuloso com a oficina, cheguei os cadeados estavam abertos, uma bancada de solda na calçada em frente a porta, uma tomada - Fiquei confuso sem saber o que fazer,infelizmente acordei. A oficina também corre o risco de desabar, tudo dando errado como sempre. As vezes penso seriamente num suicídio seria uma boa solução, acabaria de vez com esse sofrimento, essas molezas - já foi comprovado durante esses anos todos, que eu nasci para não dar certo, posso fazer o que fizer, mas nada vai mudar o rumo da minha triste sina. A garganta inflamada, afta na base da língua, dor no pescoço e por ai vai. Se eu arranjasse um revolver ou algo similar já tinha dado o meu jeito de desaparecer definitivamente desta existência. estou lutando contra o universo. Nada da certo, faço isso,faço aquilo não adianta. Mais vem um cara com uma besteira qualquer e explode do dia para noite, vira celebridade nacional,capa da Veja, entrevistas exclusivas e tudo mais - Enquanto eu vivo me arrastando, humilhando-me em todos os sentidos, alvo de galhofa e zombarias de pessoas idiotas. Eu não aguento mais, me enforcar tenho medo que falhe e a morte é dolorosa. E um tiro não, é só ouvirei o estampido e o impacto da bala na minha caixa craniana e adeus mundo dos falsos. Vivemos rodeados deles, ninguém, ninguém mesmo é amigo, só Deus é amigo de todos. Quando a pessoa nasce com essa sina maldita, não adianta alimentar falas esperanças de melhoras, que é ao contrario. Dei um tempo na maconha, são quase nove meses que me desvencilhei-me desse vicio, ai pensei as coisa vão melhorar, que melhorar que nada, fez foi piorar - entrei em depressão e numa apatia sem fim.Hoje a única coisa que ainda me segura é a sagrada literatura,uma boa leitura e esse diário- amigo que nunca me abandonou e ouve os meus lamentos.Amigos, eu não tenho, já foi esse tempo, não acredito - meu pai era meu amigo. - por trás de uma falsa amizade sempre tem um jogo de interesse. Veja Seu Raposo - irônico e direto. Vou dar um tempo.Pensei que ele fosse uma pessoa sincera.ledo engano.Deixa para lá. Minha cunhada acordou.

En la taller de la vida

Mozaniel conversou até ainda pouco. A esposa de Seu la Sierra bate papo com um colega de trabalho ambos em pé na calçada, cada um segurando um guarda-chuva. O céu fechado, o friozinho abusado.os cantos dos pássaros, um galo roufenho e atrasado canta no quintal vizinho.Um ônibus. Relia alguns trechos deste escritos,principalmente alguns trechos de "O Moço Velho" - pura preguiça mental. A minha mente esta multo confusa,pensamento sobre pensamentos como pequeno flash. Vou conhecer a prisão de Fleet.
10:00 - A prisão de Fleet é um outro mundo, assim como outras penitenciarias espalhadas pelo mundo. Ela se diferencia por ser apenas para devedores e Dickens a conhece bem essa realidade, o próprio pai foi preso por divida e ele pequeno o visitava todos os finais de semana. Um ônibus vazio recolhe-se à garagem. Fico indeciso, no que fazer, se leio ou escrevo - essa monotonia interiorana, não tenho soldas - na verdade não tenho nada, nem sonhos e nem esperanças - nada que me possa alegrar, só tristeza, pobreza, moleza - uma serie de eventos negativos intercalados - Como gostaria de encontrar um paliativo para minorar esse sofrimento eterno. Nada de bom e positivo acontece comigo e os meus.É só lamentos e nada mais. Saudade dos livros "Factotum" de Bukowski que li anda na Rua Afonso no Desterro, no sótão da Casa Grande, assim como "Tropico de Cancer" de Henry Miller, "Paris é um festa" do mestre Hemingway, "Belos e Malditos" de Fitzgerald, "Cem Anos de Solidão" do genial colombiano Gabriel Garcia Marquez, "Vinhas da Ira e Rua das Ilusões Perdidas" de Steinbeck, "A Boa terra" de Pearl S. Buck, a historia de uma Familia de camponeses chineses que alcançam a prosperidade com muito trabalho - como gostaria de tê-los aqui comigo para relê-los com muito gosto e atenção - "Subterrâneos" de Jack Kerouac com prefacio de Henry Miller - era a única coisa que me deixaria feliz e até hoje tem o mesmo sentimento.

Noite
20:05 - A velha polêmica de minha cunhada zangada por causa da farinha que não deixaram para o Patriarca. Antenor e Seu Pietro comeram tudo. Como de praxe, as onze e quarenta fechei a porta da oficina e subi o morro rumo a Praça do Bacurizeiro, passei por dentro do mercado. Gato Guerreiro jogava damas sentado num banco com um gari gordo da Cia.de limpeza. No outro banco a rapaziada bebia uma garrafa de cachaça já no final, mas seu João e pequenino lavrador inteiraram outra que bebi até as uma hora da tarde e vim preparar ou melhor esquentar a língua suculenta que sobrou de ontem para almoçar e guardei o resto para amanhã. O Patriarca emprestou-me a revista Veja da semana. As cinco e meia fui comprar os pães na Padaria do Senhor Chapéu e suas filhas. Passei pelo Carioca que estava ocupado, aquele doidão que colocou a placa "precisa-se de uma mulher" - e eu estava em companhia do meu colega serralheiro, o irmãozinho do Piancó. O pão aumentou cinco centavos. Na volta, Carioca estava na porta, puxei um assunto e conversamos por uns dez minutos no final me presenteou com DVD de Wolverine que vende. Comi o pão com um pedaço de bife de fígado e queijo ralado com suco de Tamarindo. Obrigado Senhor por mais um dia!










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