o grande caderno azul - LII

Data 23/04/2016 19:34:22 | Tópico: Textos

LII

Mais um dia na vida desse herói sem causa,maltratado por todos os lados, as gengivas, os dentes - enfim todas as mazelas. Uma guerreira e o filho,mais uma mãe solteira lutando pela sobrevivência.Vou trabalhar um pouco para espantar essa moleza. O desodorante acabou, uma cantiguinha abusada. Ao suspender a porta da oficina, deparei-me com uma carta no chão, fiquei feliz "Ninguém Escreve ao General" pensei em Garcia Marquez e quando vem é cobrança - Coloquei as chaves e os cadeados na mesinha do canto, sentei-me na velha cadeira de macarrão e apanhei o envelope no chão e constatei que não era para mim. Como sempre digo "Nada de Novo no Front" - somente problemas insolúveis. Engraçado Miller era fã inconteste do meu mestre Dostoiévski, assim como de Balzac e Proust - três baluartes da sagrada literatura universal - um ponto em comum entre eu e ele. Admiro muito Miller, adoro a sua prosa diferente e a fluidez de seu texto e a historia de sua própria vida,os eus amores, as suas aventuras sexuais.Um ser único e diferente, criou seu próprio nicho literário e não se deixou abater pela critica negativa dos outros.
Moleza sobre moleza, a dona das grades veio desfazer o combinado, agora quer somente uma grade. E agora? Mais uma das incríveis, a outra quer de bucho! Um trator estacionou em minha porta ou melhor uma retro-escavadeira.Trabalho na grade de dona Francisca. Contando com esse dinheiro das grades. Oh! Deus de misericórdia por quê tanto provação Senhor? É a minha sina, ser assim, assim será..

Mais tarde na mesma manhã
Soldei os ferros, a vista quer inflamar. Ultimamente ando muito vazio, indisposto, desgostoso e por ai vai - sem um objetivo, pois de todos eles eu não acredito mais. - O livro que ninguém vai ler, o meu refugio é a santificada literatura dos evangelhos de São Dostoiévski, São Miller, São Kerouac, São Balzac e outros. Nunca mais comprei um bom livro, todo dinheiro que ganho vai para as despesas e no entretanto ocorre mais essa moleza. O que posso fazer? É seguir em frente, sem olhar para trás (para não virar uma estátua de sal) e viver cada dia como se fosse o ultimo de minha vida. Não adianta perder tempo com sonhos ou planos que nunca se realizarão, mas é bom sonhar, ao menos esqueço o que estou passando. Sou bombardeado vinte quatro horas por todos os lados,pressionado até a alma, de chegar ao ponto de querer desaparecer para sempre. Se vou fazer uma coisa, nuca dar certo - sempre tem um probleminha -o que é fácil para os outros para mim é super difícil. Eta vida! Vou ler Cacos Barcelos. Viajar até o Morra de Dona Marta, conviver com a malandragem pesada da rapé de Juliano VP.


Começo da tarde
Em casa, depois de almoçar. Um álcool rolou na praça do Bacurizeiro. Todos dorme a sua siesta,menos eu - um pouco acima do chão. Vou deitar-me no sofazinho querido para dissipar os efluxos alcoólicos.




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=308409