O príncipe e a camponesa
Data 25/04/2016 12:16:46 | Tópico: Poemas -> Amor
| Dizem que num certo reino o imperador Lombardo tinha um filho valoroso conhecido por Ricardo e naqueles arredores não havia mais galhardo
Como estava desejoso de fazer o seu enlace o herdeiro do monarca pra sair desse impasse procurava uma dama entre as de sua classe
Pra poder satisfazer seu desejo com presteza deu um baile no salão convidando a nobreza não apenas do castelo mas de toda redondeza
No castelo um feiticeiro praticante de alquimia aumentar o seu prestígio era o que mais pretendia pois vivia escondido sem nenhuma regalia
Os feiticeiros do reino se consideravam sábios estudando toda noite volumosos alfarrábios sendo por toda nação vigiados com ressábios
Mas o mago ambicioso já havia fabricado trabalhando em seu porão um anel enfeitiçado que daria a quem usasse um poder inusitado
Uma certa baronesa que o mago conhecia aceitou enfeitiçar o herdeiro com magia pra subir ligeiramente no degrau da fidalguia
Pois o mago precisava promover a baronesa e lhe dar pela magia uma vida de princesa pra ficar futuramente dando cartadas na mesa
Nessa noite o herdeiro recebendo a fidalguia conversava com as damas procurando todavia uma que fosse perfeita pra fazer-lhe companhia
Pois Ricardo no momento que avistou a baronesa disse para os convivas: - Eu já tenho a certeza que está aqui presente minha futura princesa!
- Não vislumbro no salão outra que seja mais bela! Só conhece a beleza quem já viu a face dela! E passou o baile todo cortejando a damizela
Os convivas os olhavam meio que desconfiados e durante toda noite eles foram vigiados mas saíram do salão como dois apaixonados
Quando foi no outro dia ele foi falar com ela já estando decidido a casar com a donzela e passou o dia todo sem sair do lado dela
E nos dias que seguiram dela não se apartava Por caçadas ou torneios ele não se interessava Na presença dos amigos é só nela que falava:
- Nunca outro desejou da maneira que a desejo! Eu me sinto totalmente delirante e arquejo sem poder me controlar no momento que a vejo!
- Eu não sei se ela é rosa cinerária ou lisianto, flor-de-maio ou miosótis, margarida ou agapanto, eu só sei que ela viceja no jardim do meu encanto!
- Ela me deixa suspenso com a sua formosura! Escuto aves cantarem uma nova partitura! Vejo a lua mais clara e nas neves mais alvura!
- Eu enfrento uma tropa um dragão ou o que for pra ficar por toda vida desfrutando o seu amor quando meus dias serão como a estação da flor!
Mas Ricardo se tornou com o apaixonamento nos solares e aldeias no assunto do momento circulando o boato de um enfeitiçamento
Calculando o problema avisou um conselheiro: - Na passagem da coroa do monarca ao herdeiro a futura imperatriz manda no país inteiro!
O monarca absoluto se mostrou preocupado: - Eu casei com Dorotéia sem estar apaixonado! Casamento é só barganha nos negócios do estado!
- Como ele está preso feito peixe na barbela deixem a guarda real vigiando o quarto dela pra podermos descobrir quem visita a donzela!
Pois Ricardo pela dama dia e noite suspirava Por feitiço avassalado dela não desconfiava Nos encontros do jardim com ardor se declarava:
- Basta a sua presença pra deixar-me ofegante! Nossas vidas se uniram numa rima consoante! Pra manter o seu amor eu enfrento um gigante!
- Que farei se nunca mais contemplar sua beleza? Se em nossas despedidas quase morro de tristeza e me alegro ao recordar que será minha princesa?
- Sempre fico ansioso pra ouvir a sua voz esperando o momento em que ficamos a sós desfrutando o que o amor reservou só para nós!
- O amor que agora sinto não senti por mais ninguém com a força abrasadora que eu sei que esse tem! Só desejo para sempre lhe amar e querer bem!
Percebendo que a paixão foi ficando mais acesa a fidalga interesseira já com ares de princesa meio que foi esquecendo de ser uma baronesa
Na alcova em que dormia com a sua criadagem recusou-se a receber quem não era de linhagem impedindo o feiticeiro de fazer sua chantagem
Pois o mago desdenhado no orgulho da donzela concluiu que precisava retirar o anel dela pra poder recuperar seu controle sobre ela
Conhecendo que a dama era alvo de suspeita planejou o que faria pra magia ser desfeita sem saber que um vigia já estava na espreita
Como ele trabalhava com a sua alquimia escondido num porão duma torre de vigia tinha acesso ao lugar onde a dama residia
O piado de um mocho avisou ser o momento de o mago amufambado ir subindo o pavimento pra entrar no corredor onde estava o aposento
Quando o mago chegou onde a donzela dormia se quedou maravilhado pois a mesma parecia pela sua formosura uma flor em pleno dia
Recordando o motivo de ficar extasiado foi tirando da donzela o anel enfeitiçado pra voltar ao corredor com o passo apressado
Mas chegando na escada encontrou o sentinela que estava esperando pra fazer a esparrela Sem ter como escapar foi levado para a cela
Quando foi no outro dia acordando muito cedo a donzela decidida a guardar o seu segredo percebeu que o anel não estava no seu dedo:
- Se Ricardo descobrir que era tudo um feitiço vou ficar como a rosa que um dia perde o viço sem ver mais o colibri circundando submisso!
Pois a dama furiosa chamou a sua criada dando ordens para ela procurar desatinada o anel por todo quarto e não encontraram nada
Nesse entre o herdeiro de maneira repentina esquecendo a baronesa retomou sua rotina abrandando os boatos circulados na surdina
Como estava desejoso de fazer uma caçada preparou a comitiva pra uma longa jornada escolhendo uma floresta como ponto de chegada
Pois o rei ficou feliz ao saber que o herdeiro retornou ligeiramente a seu modo costumeiro informando a novidade para cada conselheiro
Na prisão o alquimista tinha sido revistado Escondido em sua roupa o anel foi encontrado Com bastante ligeireza ao monarca foi levado
Não sabendo que o mago já estava numa cela a fidalga interesseira sem receio nem cautela foi pedir ao soberano o anel que era dela:
- Digo à Vossa Majestade que estou aperriada pois preciso informar que durante a madrugada por vigia ou criado minha jóia foi roubada!
O monarca escutando respondeu colerizado: - Esse larápio não é nem vigia nem criado! Ele é o feiticeiro que está encarcerado!
- Como agora está preso não feitiça mais ninguém! Volte para o seu quarto pra não ser presa também! Se console com as jóias dos baús que você tem!
Nesse entre o feiticeiro conhecendo o resultado numa cela escura e suja se quedou desanimado sem que pudesse entender o que tinha dado errado:
- A vaidade foi o erro da donzela interesseira pois teria dado certo feito da minha maneira mas agora sem feitiço vai continuar solteira!
Mas vamos deixar o mago com a sua indagação e até o fim da trama encerrado na prisão pra contar como Ricardo viu-se numa aflição...
Pra Ricardo as caçadas eram mais que um lazer Quando estava acampado para ali permanecer não havia um trabalho que não quisesse fazer
Certo dia que estava construindo um tapiri entretido na tarefa viu chegando por ali apartado da malhada um robusto javali
Foi o azo que faltava pra caçada iniciar Os fidalgos avisados começaram a montar A matilha atiçada fez o porco debandar
Um corcel rapidamente foi frenado por Ricardo que montou na sua sela disparando sem retardo num galope diligente no encalço do javardo
Mas o grande javali circundado pelo prado desviava com sucesso dentro do mato fechado debandando na clareira inda mais acelerado
O barão Hermenegildo num cipó se embaraçou Foi puxado para trás no momento que tombou sem poder se levantar dessa queda que levou
E o conde Percivaldo numa curva sinuosa permitiu que o cavalo de maneira vergonhosa tropeçasse na raiz duma nogueira frondosa
O marquês Tertuliano com a pressa em passar num terreno acidentado fez seu baio resvalar que sentindo o repuxo começou a manquejar
E o Duque Marfumbino guiando o cavalo seu atalhando na campina um revés nela sofreu despencando num riacho da pinguela que cedeu
A matilha que corria em carreira desmedida farejando uma raposa num arbusto escondida foi latindo para ela do javardo esquecida
Só Ricardo tenazmente prosseguiu na pradaria espreitando o javardo que de vista não perdia Com destreza e volúpia seu cavalo conduzia
Sem ajuda de cachorro rastreando pelo prado no cavalo Vitorioso esperava o resultado com o javali correndo sem ficar distanciado
E o porco perseguido por Ricardo na estrada promovendo um desafio sem igual numa caçada escapava se afastando feito carpa ensebada
Mas Ricardo pretendia só acelerar o passo pra manter o seu cavalo bafejando no cachaço do javardo que seria derrotado por cansaço
Entretanto o javali era firme na passada Sem perder a rapidez desde a sua arrancada parecia uma flecha pelo arco disparada
Avançando velozmente pelo mato na carreira esquivava pela trilha numa fuga tão ligeira que a planta engalhada arrancava da touceira
Parecendo ser levado pela força dum tufão perpassando cupinzal em que dava um topão levantava pelos ares espalhando pelo chão
Desdenhando a rapidez que Ricardo o perseguia parecia que o javardo com a força que corria não seria alcançado nem por uma ventania
Vitorioso na montanha por encosta ou ribeira exibindo a sua raça prosseguia na carreira desenhando no trajeto uma trilha de poeira
Sendo mesmo pertinaz o cavalo de Ricardo galopava projetando sua sombra no javardo pois voava pela mata parecendo o furabardo
Vendo o javali fazer galho de pau estalar cipoal arrebentar-se pedra no monte rolar persistia no encalço sem deixar se afastar
Pois Ricardo resoluto conduziu o seu cavalo sempre com velocidade incessante no embalo obrigando o javardo a fazer um intervalo
Vendo o dito esbaforido foi ligeiro que Ricardo com o arco já no ombro fez a mira sem retardo disparando sua flecha na costela do javardo
Atingido na flechada a fera deu um grunhido retornando à carreira novamente perseguido só faltando uma flecha pra que fosse abatido
Pois varando as estepes as picadas e atalhos o javardo foi ficando com a pele em fragalhos sendo a mesma retalhada na passagem pelos galhos
Sem poder se esconder foi descendo num baixio Resvalando nas areias mergulhou fundo no rio Pela sua afoiteza num perau ele caiu
Preso pela correnteza viu chegar esfomeados perigosos crocodilos atacando pelos lados avançando sobre ele com os dentes afiados
Pois Ricardo no baixio com seu cavalo de raça viu os ditos crocodilos devorando a sua caça Do maior dos javalis só restou uma carcaça
Cavalgando na estepe no regresso da viagem Dom Ricardo já estava percebendo a paisagem como nunca poderia avistada de passagem
Num atalho pelo bosque deparou com arbustiva com a fruta reluzente parecendo nutritiva não sabendo que a dita pra saúde era nociva
Percebendo que a polpa era farta em doçura foi comendo com regalo que estava bem madura Mais adiante ficaria com enjôo e tontura
Ao leitor que ansioso quer saber da camponesa vou dizer que ela saía do seu lar para a devesa quando avistou Ricardo com aquela molestesa
Avistando o cavaleiro parecendo combalido foi correndo para ele pra que fosse socorrido vendo na fruta mordida o que tinha acontecido
Quando ele da tontura despertou recuperado percebeu que tinha sido para um leito carregado Em seu lar a camponesa lhe tratava com cuidado
Ao ficar observando como era a família viu na casa um ancião de quem ela era filha as galinhas e a vaca a despensa e a mobília
Vendo como a camponesa sempre a todo momento dedicava ao velho pai um distinto tratamento Dom Ricardo estimou-a pelo seu comportamento
Por seu turno a camponesa quando soube que Ricardo merecia reverências por ser filho de Lombardo perguntou-lhe o que fazer para dar-lhe mais regardo
Dom Ricardo precisando prontamente regressar perguntou à campesina se sabia lhe mostrar o caminho mais ligeiro para o monte-beira-mar
E se foram por subidas e descidas para o monte perpassando ribanceira, matagal, devesa e ponte procurando sua encosta no perfil do horizonte
Quando seu acampamento conseguiram encontrar Dom Ricardo satisfeito concedeu sem hesitar sua tenda confortável para a moça pernoitar
Quando foi no outro dia na barraca da cantina Dom Ricardo permitiu que a singela campesina se juntasse a sua mesa mesmo não sendo grã-fina
E Ricardo em altas vozes disse a todos na mesa: - Mesmo não sendo fidalga essa jovem camponesa sempre trata o seu pai qual se fosse a realeza!
Mas estava no momento da campesina partir Dom Ricardo relutante sem poder lhe impedir ordenou a seu valete que a fosse conduzir
Antes da sua partida a campesina zelosa ensinou a Dom Ricardo qual a fruta venenosa sendo que a diferença era ser menos lustrosa
Dom Ricardo não queria despedir-se dela sem uma boa recompensa para ser grato também ofertando à campesina um garboso palafrém
Dom Ricardo inda ficou mais um tempo acampado conservando com o sal tudo quanto era caçado mas chegava a temporada dos torneios no reinado
No retorno ao castelo o herdeiro com franqueza foi dizer ao soberano que não tinha mais certeza se queria aceitar por esposa a baronesa
Ele então ficou sabendo que esteve enfeitiçado e aquele casamento não seria celebrado Tudo estava resolvido com o mago encarcerado
Dom Ricardo a palavra do monarca escutando no invés de indignar-se ou ficar se lamentando com aquela novidade retirou-se exultando
Nesse entre a patuléia repetia em cada esquina que havia uma suspeita circulando em surdina de Ricardo apaixonado por donzela campesina
E o rei por ser ladino já sabia o que fazer empregando o feitiço do anel em seu poder O leitor já imagina o que vai acontecer...
Pra movimentar as peças como quem joga xadrez foi até seu gabinete convidando um marquês com as filhas damizelas que totalizavam três:
- Tendo sido enganado por uma dama fingida Dom Ricardo quer saber quem é minha preferida pois deseja desposar com a minha escolhida!
- Sempre vi em vocês três predicados não pequenos! Se Bianca é virtuosa e Sabrina não é menos, Lady Julia tem ainda atributos que são plenos!
O anel do feiticeiro foi mostrado para elas como se fosse relíquia de remotas parentelas O que ele pretendia explicou às damizelas:
- Essa jóia tem valor que sequer posso medir! Eu gostaria de ver em que dedo vai servir! Quem será a minha nora o anel vai decidir!
A marquesa Lady Julia foi a privilegiada mesmo sendo por acaso que a jóia enfeitiçada só serviu no dedo fino da que era a enteada
Dom Ricardo nessa noite no seu leito ressonando foi varando a madrugada com a marquesa sonhando Viu-se no jardim do paço pra donzela declarando:
- Pra manter o seu amor eu enfrento uma quimera! Do seu lado vou estar numa eterna primavera! Quando quero lhe rever é tão longa minha espera!
- E chegando o momento de rever sua figura como não existe outra com a sua esplendura nada pode ser maior do que a minha ventura!
- A sua imensa beleza já por todos conhecida nas mulheres do castelo de vaidade desmedida nem daqui a muitas eras não veremos repetida!
- Se não posso resistir a muito mais lhe querer é preciso que me diga tudo o que posso fazer para ter o seu amor que anseio em merecer!
Quando foi no outro dia o primeiro dum torneio Dom Ricardo preparou seu corcel sem titubeio Encontrar a damizela era o seu maior anseio
Como era seu costume desfilou na galeria exibindo seu brasão junto da cavalaria terminando a parada acenando à fidalguia
Avistando Lady Julia no palanque de repente com a força do feitiço dominando a sua mente desposar com a donzela desejou ardentemente
Motivado por feitiço desde o embate primeiro Dom Ricardo já estava com o seu golpe certeiro derrubando o cavalo junto com o cavaleiro
Nem a lira de Ariosto ou a pena de Boiardo poderiam descrever como era que Ricardo avançava na barreira parecendo um guepardo
Nas disputas seu cavalo era o mais encarniçado Parecendo arremeter com a fúria do tornado Vitorioso avançava num galope martelado
Sir Rivaldo, seu amigo destacou-se no combate No seu baio Puro-Sangue o mais firme no embate em vitórias conquistadas com Ricardo estava empate
Se encontrando na arena pra medirem a destreza foram ambos aplaudidos pelo povo e a nobreza pois seria uma disputa acirrada com certeza
Quando o júri deu sinal ordenando a partida os cavalos no impulso dispararam na corrida provocando no recontro a mais firme rebatida
Foi tão forte o fragor que ferindo os ouvidos fez estrondo imitando um milhão de estampidos parecendo mil leões ressoando seus rugidos
Sir Rivaldo velozmente foi levado para o chão pois Ricardo motivado no impulso da paixão fez igual uma centúria pondo abaixo um portão
Bem distante do corcel Sir Rivaldo foi lançado como um freixo que caiu por machado derrubado sem poder se levantar declarou-se derrotado
O herdeiro nessa hora comprovando seu valor dessa etapa do torneio foi o grande vencedor Todo povo na platéia lhe aclamava com ardor
Mas chegava o momento do herdeiro indicar quem seria a RAINHA DA BELEZA do lugar Bastaria para isso a grinalda lhe passar
Perpassando o palanque ele já tinha certeza que só uma escolheria pra RAINHA DA BELEZA Era a jovem damizela Lady Julia, a marquesa
Recebendo a grinalda do herdeiro e campeão Lady Julia agradecida estendeu-lhe sua mão pra que ele a beijasse como era a tradição
Mas Ricardo espantado reparou que seu anel destoava do requinte do colar e do chapéu e não tinha a fineza que estava no seu véu
De repente o herdeiro recobrou-se do feitiço percebendo que por ela seu desejo era postiço calculou que seu anel era quem fazia isso
E os dias transcorreram sem Ricardo demonstrar a menor das ansiedades de com a jovem casar Só queria no torneio mais vitórias alcançar
Nesse entre o monarca percebendo que o trono já estava por um triz de ficar no abandono vendo os dias avançando quase que perdia o sono:
- Para não ficar refém dos caprichos de Ricardo vou passar minha coroa para um filho bastardo! É melhor que me suceda o que é o mais galhardo!
Escutando o argumento respondeu-lhe a rainha que de tudo discordava e pra não ficar sozinha respaldou na patuléia as motivações que tinha:
- No primor da primavera com a flora em pleno viço a rainha das abelhas não se afasta do cortiço e o povo quer o trono dado a um filho castiço!
Escutando essas palavras e mostrando no momento que dos anseios do povo tinha mais conhecimento o monarca à Dorotéia expressou seu pensamento:
- Todo povo nas aldeias já repete um brocardo: a coroa do império na cabeça de Ricardo mesmo leve e suntuosa vai pesar igual um fardo!
Pois de fato o herdeiro numa pressa manifesta com torneio acabando não ficou pra sua festa Na garupa do cavalo disparou para floresta
Foi Ricardo cavalgando entre faias e salgueiros escutando o mais solene rumorejo dos ribeiros feito pela correnteza que descia dos outeiros
Lá no alto da montanha que estava margeando farfalhava a folhagem dos pinheiros ondulando quando sobre a estepe viu tulipas vicejando
Apeando nesse trecho recolheu a flor bonita arrancando prontamente do seu traje uma fita pra fazer um ramalhete enlaçado com a dita
E seguindo a viagem para o leste da colina como era seu desejo avistou a campesina que estava passeando pelo dorso da campina
Indo ao encontro dela perguntou à camponesa se daria-lhe a honra de ser a sua princesa mas que ela aceitaria ele não tinha certeza
A singela campesina ouvindo sua proposta confirmando a suspeita de já ter razão oposta recebendo suas flores formulou essa resposta:
- Sou apenas uma simples camponesa da mão grossa! A minha vida tem sido da choupana para a roça! Vivo com minha família na mais humilde palhoça!
- No costume camponês fui criada desde cedo! A nobreza é um anel que não cabe no meu dedo! Eu sou a filha do campo a irmã do arvoredo!
- Aprendi a respeitar toda a força e grandeza que eu vejo nos lugares onde grassa a natureza sem ter nunca invejado os que gozam da riqueza!
- Como vou me acostumar com as pompas do salão se na relva mais macia venho andar de pé no chão e as águas da vertente bebo na concha da mão?
- Entre um doce levante e um brando anoitecer quero andar no arvoredo das campinas para ver que a sombra da ramagem faz desenhos sem querer!
- Quero ver o horizonte sem muralhas me cercando! Ao andar nos chaparrais avistar nuvens passando com a mão leve do vento as puxando e esgarçando!
- Procurar na pradaria onde nasce a violeta! Ver a graça delicada que exibe a borboleta e o sol se espargindo no entorno do planeta!
- Ver a neve borrifada sobre a serra morena! Ver a água transparente da lagoa mais serena! Ver no vasto firmamento noites com a lua plena!
- Uma prole de linhagem e as glórias do reinado não conseguem seduzir a quem nada tem faltado! Quem me der um diadema nada não terá me dado!
E Ricardo a escutando inda mais lhe estimou Deu razão à campesina e com tudo concordou Refazendo a proposta desta forma lhe falou:
- Dou até minha espada na enxada do plebeu! Meu palácio na palhoça pra ficar ao lado seu! Só preciso que seu pai nos consinta o himeneu!
- Eu espero a decisão mesmo se ele pedir pelo o aconselhamento tempo para refletir aceitando totalmente o que ele decidir!
Pois o pai da campesina foi bastante cauteloso explicando para a filha quanto ia ser custoso ver Ricardo aprovado para ser o seu esposo:
- Você vai lhe ensinar o trabalho no roçado! No lugar que estiver você fica do seu lado! Sugerindo alguma coisa considere reprovado!
- Ele tem que aprender a cortar lenha em grosso e acordar de manhã cedo pra buscar água no poço com a vara de bambu machucando no pescoço!
- Todos dias começar de manhã sua jornada já saindo para o campo carregando a enxada só voltando para casa com a roça já plantada!
- Ele tem que persistir no raspar da terra dura aprendendo a esperar pra ver a safra madura merecendo o regozijo com o tempo da fartura!
Pois Ricardo escutando pela jovem a proposta aceitando sem ressalvas o que nela foi exposta garantiu-lhes que daria prontamente a resposta
E fazendo de bom grado tudo quanto exigido comprovou que poderia ser pra ela um marido e com isso a campesina aceitou o seu pedido
Mesmo o rei e a rainha deram seu consentimento Com a minha narrativa tendo aqui encerramento entre amigos e parentes celebrou-se o casamento
FIM
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