Chegaste

Data 28/02/2008 18:24:53 | Tópico: Crónicas

O livro caiu-me das mãos, ainda agora o devorava entusiasmado, e o disco que tocava, emudeceu rendido. Nas ruas já não rebentam as vozes dos inquietos e dos injustiçados, e o autocarro urgente das tantas e tais já passou apressado sem que eu o queira. A chuva caiu e o Sol voltou, como se nunca nada acontecesse, e os tachos ficaram ao lume aquecendo um jantar adiado. Não, não reguei as flores, nem vesti nenhuma das roupas que me prendiam na escolha decisiva. nem me sentei para ver na TV o show que ficou a meio, nem a resposta à pergunta mais difícil, que um dia já não é importante. A memória perdeu-se, e o frio que ainda agora gelava os pés, e o suor que caía deste Estio esgotante e intenso, não são mais que apontamentos de outros dias. As janelas abertas de par em par, não batem nem se fecham, os sinais são de outras cores, nem vermelhos nem verdes, o amarelo não pisca, como meus olhos doridos, chorando, são agora faróis atentos, e os correios e as cartas já não são mais que objectos que se guardam e não se atendem, nem que o telefone toque colérico do desprezo que lhe entrego. O mar abraça-se à areia manso e calmo como se parasse para escutar. As histórias arrumaram-se em fila de espera, nem as palavras se importaram de ficar presas nos lábios, afinal tudo parou, apenas porque chegaste e te sentaste, bem perto de mim.


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