ESTRANHO MILAGRE
Data 29/02/2008 14:30:18 | Tópico: Poemas -> Esperança
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Pela fenda aberta No asfalto da avenida principal, De uma metrópole sem alma Ruidosamente infernal, Surgiam folhas De um grão de milho Vindo não sei de onde, De destino incerto, Crescimento vigoroso, Talvez, findo nas rodas impacientes, De um veículo qualquer Ou sob a pá do operário insensível. Antes de virar alimento, Antes de madurar seus grãos Antes de matar a fome, Quem sabe do operário que tapa buracos Ou do agricultor muito pobre, Que faz de um buraco de rua Seu latifúndio.
Aquelas folhas surgidas Como duendes encantados De uma fenda sem vida, Passam despercebidas, Mas trazem com vigor O encanto selvagem perdido Nas metrópoles sem alma.
Pede que se permita Um sonho maior, Que seu feitiço progrida, Que suas espigas amarelas misteriosas... Um dia, ainda, Tragam para os que passam irrequietos, Apressados, tristes... Motivo para sorrir, Como para chorar Ou quem sabe para odiar O encanto amarelo intruso.
Pede, ainda, as espigas vindouras, Como recompensa Ao nobre cereal Que há tanto vem mitigando A fome humana, Que se interrompa o trânsito Naquela avenida principal, E que o homem do restaurante da esquina, Vez por outra, Dê de beber Ao intrometido, Enquanto durar seu estranho milagre.
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