Abstracto

Data 29/02/2008 18:09:26 | Tópico: Poemas

Galguei Mundo,
Encontrei alegria em despojos de guerra,
Olhares clandestinos na miséria,
Dor em milhentos sorrisos perdidos...
Sonhei a vida num segundo,
O passado nas cores da terra
Espelhados em rostos de gente séria,
Nos seus corpos esguios, despidos.

Senti-me evaporar num pensamento,
Tornar-me nuvem navegante.
Pássaro que flutua sem destino,
Homem destemido e cobarde.
Pintei o Sol, a Lua e cada momento,
Artista de rua, cigano, cartomante,
Debutante fino, simples menino,
Pavio de vela que arde.

Sorri para ninguém,
Olhei em volta e vi-me na sombra,
Farrapo humano sem vida,
Pai de derrotas, filho de vitórias,
Amado, odiado por alguém...
Mísero resquício de magia negra.
Mar salgado que morreu de seguida
Insignificante entre tantas memórias.

Beijei uma face da morte...
atirei os dados rumo ao futuro,
Em correria solitária e insana,
Sem fim...
Julguei-me dono da sorte,
Do sentimento mais puro,
De uma absurda alegria profana.
Julguei-me feliz... assim.

Atirei pedras a quem sofria,
Enterrei fundo os meus erros.
Condenei-me aos limbos eternos,
À tristeza, à solidão.
Procurei quem mais me queria
Por esses caminhos e cerros,
Mares revoltos e infernos,
Mas nunca, nunca no meu coração.

Cortei as asas ao presente,
Roubei os sonhos ao desejo,
Escrevi a vida no esquecimento,
Sucumbi a tamanha arrogância...
Sou culpado, de culpa demente,
Sou o que olho e não vejo.
Arauto do desentendimento,
Coisa de somenos importância.


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