Mãe Natureza

Data 01/03/2008 00:07:26 | Tópico: Mensagens -> Desabafo

Perto da casa onde moro há um parque. São meia dúzia de metros quadrados de relva, salpicados de plátanos e castanheiros. Aqui e além um aparelho de madeira improvisado, para quem se dignar exercitar o corpo e, a rasgar o parque, um ribeiro. Mais parece uma amostra! De qualquer modo está lá a marcar presença com a corrente que lhe é permitida. Não é a saudosa quinta. Verdade que não! Mas pode-se ouvir a água a correr, o chilrear dos pardais, o mocho no tronco da árvore... pode-se ver o melro vaidoso, exibindo a cauda bem direitinha! Galinhas e piriquitos de quintais vizinhos penicam pelo chão espezinhando os pés de hortelã ribeira, ortigões e malvas! E eu bebo de tudo aquilo! Bebo com os olhos ... ouvidos ... nariz .... Bebo!
Sabe tão bem presenciar o milagre da Mãe Natureza! Gosto de ir até lá! Nem que seja por cinco minutos! Nem que seja só de passagem! Tenho no mar e no campo uma espécie de carregador de baterias que surte no mesmo efeito que tem um chá de tília! Relaxa, recarrega, alivia, sei lá! Alimenta! É uma espécie de encontro que tenho comigo mesma.
Quando era criança vingava-me em passeios solitários e exploradores pela quinta dos meus avós. Coitados! Deixava-os preocupados muitas vezes! Havia sempre qualquer coisa que me prendia por mais uns minutos e, quando dava por mim, já tinham passado duas ou três horas! Conhecia o ritmo daquela terra como as palmas das minhas mãos. Tinha memorizado o relógio de aromas da quinta. Sabia exactamente em que momento abria esta ou aquela flor, quando o seu aroma era mais intenso e quando voltavam a "adormecer". Vigiava ninhos, casulos e tocas... Nunca nada era demais ou suficiente.
Haviam dois momentos naquela quinta, por os quais eu esperava um ano inteiro. A postura da borboleta pavão diurna e o florir de umas minúsculas flores azuis duma erva daninha. Não cabia em mim de contente! A borboleta era linda! Enorme! E o sacrifício dela encantava-me. A erva daninha.... a erva daninha nem parecia sê-lo! Quando floresciam aquelas cinco pétalas azuis.... minha nossa! De um azul bem forte .... carregadas de vida! Nem pareciam reais. Como eu adorava rebolar pela manta de malmequeres, subir pelas rochas, fugir do gado! Eh! Eh! Poucos têm a sorte que eu tive!
Perto da casa onde moro há um parque. Não é a saudosa quinta mas eu gosto de ir até lá!



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