Tenho um momento meu guardado No silêncio que só em mim se gasta E como do calor devastador se afasta Abro uma porta ao mundo espiralado
Recebo o bafo da chuva anoitecida Nos segredos que os dedos magoam E ergo as sílabas pálidas que ecoam Nas gotas de raiva rasa e enlouquecida
São cálices de um vinho encorpado Plenos de voos rubros numa melodia Que o temporal abafou em rebeldia Numa falta soturna, brio evaporado
E embriago-me desse vício tão feliz Do encontro sereno, desprevenido No encaixe das dermes, escondido Pela dança que só a vontade quis
Abraço as árvores e acaricio as folhas Bebendo os pingos da alquimia-escuridão E sinto o tamborilar doce da tua mão E perco-me na doçura quando me olhas!