O primeiro caderno vermelho - o livro francês - 6

Data 10/06/2016 22:12:52 | Tópico: Textos

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Na sala de estar da III - Casa Grande dos Bambas - minha cunhada quer dormir no sofá, nas as meninas não deixam cochilar. Estava com vontade de beber uma dose de cachaça com os Papudinhos na praça, mas graças a Deus não os encontrei. Com ajuda de Seu Nezinho cortei a chapa de l/8 para fazer a tampa de cisterna da vovó da Rua 20 - e adiantei os outros complementos. Meu filho como sempre com seus eternos problemas - pretinha na porta a espera da comida de Sarinha. Bruniele vem contar-me uma historia. Os cães ladram ao ver Pretinha.
- Oh! Bruce como tu é chato! - exclama Sarinha com o prato na mão. Bruniele retorna pra conversar. Minha cunhada se espanta com os latidos. Sarinha vem com a bacia com a comida e despeja na calçada. Agora vou ler um pouco, hesito entre Joyce e Dickens.
Encerro o grande Dickens, gostei imensamente do ultimo conto "A historia do Limpador de Botas" fechando o livro com a maestria digna do mestre que admiro. Vou arruma-lo no seu lugar merecido. "as Aventuras de Sr. Picwick" esta emprestado para o Seu Regis, um ex-radio-tecnico que mora no São Benedito. Coloquei-o entre Dostoiévski e Turguniev. Releio Joyce depois de vinte e cinco anos, ainda na Casa Bamba da Rua Afonso Pena, no sótão sujo, com o assoalho enegrecido pela poeira, o calor insuportável da tarde devido as telhas de amianto. Sentado no sofá cor de jerimum, debaixo de uma lâmpada incandescente de 100 velas - A mãe de Clarinha chega com as coisa e não fala com ninguém, nem ao menos um simples olhar. O carteiro-motoqueiro encostou mas perguntou por outro nome e a minha esperança desvaneceu friamente - quando chegará o meu tão sonhado livro? Tento dormir um pouco, mas o calor e o suor me fizeram levantar. Entretido com as peripécias do fantástico Caolho irlandês Joyce e seu alter-ego Stephen Dedalus - mas mesmo assim meus pensamentos não se assossegam levanto para beber café. Quando começo a escrever as meninas vem me perturbar. Minha cunhada varre o terraço. penso no meu triste filho e suas eternas divergências com a sua irrequieta mãe que nunca o entende e estão sempre a discutirem - e outras coisas que tiram a minha tranquilidade. Pretinha deitada na calçada em frente. Os filhotes de um passarinho chora no alto do poste onde esta o ninho sobre o transformador. Pretinha muda de lugar e deita-se no meio da rua no asfalto frio. Os operários começam a chegar da labuta, a nuvem cobre toda a rua. Um camburão da PM desceu ainda pouco - meu corpo esta dolorido, esforcei-me muito para cortar a chapa na talhadeira. Bocejo e dou um peido barulhento. Seu Pietro saiu. Professor coloca a cadeira na calçada - Chambinhp, a cadela vem fiscalizar.. Involuntariamente entro na brincadeira das pixixitinhas, sou o professor de um colégio imaginário. Adriele, a menor de todas é a filha de Bruniele, é muita braba e fala alto esbravejando:
- Ela é mia fia - grita.
- Tu tá doida - Admoesta minha cunhada Dadá da porta com as mãos na cadeiras.
Depois de ir a oficina, antes parei na praça do Viva para vou conversar com Matraquinha, depois Seu Riba - Um lanche rápido na padaria da esquina da 20. Um papo com Seu Cardoso & Cia e finalmente um bom 'baseado'. O retorno, a ida a Lan-house. nenhuma boa noticia - li na Wikipédia as biografias de Marconi, Thomas Edison, Gralham Bell e Henry Ford - mas não pude ouvir Mozart por conta da musica alta do arraial e do bar de Dona Francisca que fica ao lado da nova Lan-house no mercado. Mamãe e professor deitados nos seus respectivos aposentos. Larissa no computador - Aqui na sala as meninas e Minha Cunhada vendo a novela das nove na Globo.


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