Mendigo

Data 01/03/2008 11:42:19 | Tópico: Poemas

Um cão trôpego que percorre a praia
De olhar abandonado e infeliz,
Um velho pescador que olha o infinito
Que se distrai a coser as redes da faina.
Esconde-se o Sol impiedoso que aqui reina,
Esgota-se-me o pensamento... medito!
Ouço curioso o que a consciência me diz,
Duvido de mim e dos da minha laia.

Consumo um breve olhar de estupidez,
Uma prostituta que se esgueira na janela,
O seu perfil debaixo de uma luz fosca...
Fraco o negócio, vê-se no cabelo desgrenhado.
Não tenho nada, sou vadio, estou abandonado!
Gozo o que me resta desta vida tosca,
Faço do meu passado uma sequela,
Enlouqueço... passo-me de vez.

Lembro de repente o que não cheguei a ser,
Do ralhar dos meus pais à noite, à ceia,
Da correria que fazia com os meus irmãos,
Não distingo mentira de verdade.
Sinto a velhice nesta tenra idade,
No olhar desses homens que julgo sãos.
Vejo assustado o sangue a correr na veia,
Vejo que um dia podia ter aprendido a ler.

Quis ser médico, outras vezes soldado,
Quis ser qualquer coisa, até mesmo gente
E nada sou... navego triste na vida,
Esqueço-me dela, no vinho e no cigarro.
Existência ténue que já não agarro,
A que estendo esta mão tremida.
Procuro alguém que seja inteligente,
Alguém que de mim se possa ter lembrado.


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