DIVISÃO... ESTÉRIL!

Data 01/03/2008 14:43:45 | Tópico: Textos -> Crítica

Com uma visão longitudinal, permaneço cismado a pesquisar a escuridão em lamúrias seqüentes. Procuro a felicidade nos meandros do infinito, me perdendo pelos caminhos sem alarde dos meus lamentos.
Ando, em trôpegos passos, pelas escalas da vida, igual um ébrio errante à percorrer degraus inexistentes, que a sua mente confusa projeta como reais.
Permaneço na roda-pé da fortuna, como um reles excremento, a lhe nutrir a existência, sem receber nenhuma partilha. A miséria me incomoda, pela carência da partilha.
Trafego nas marginais da minha pobre existência, em atropelos fugidios da sorte, todavia, embora com a fé quase desvanecendo, sei que só terei valor após o meu falecimento corporal.
Vagueia o meu Ser penando pelos cerceamentos da paixão, porém, trago a minha fronte sempre erguida, por ser alimentada pelo meu pensamento idôneo.
Lamento, com o coração ferido e intumescido pela injusta espoliação, nesta longa estrada a percorrer, onde, só me dão os nichos recôndidos e a escuridão dos prêmios.
O meu espírito lamenta a dor de ver a riqueza se mancomunando com os abastados, sem me darem tal regalia, na surdez do Bem distribuído.
Reclamo, com o âmago lesionado pelas injustas discriminações pelos caminhos vicinais e frios, por mim seguidos, dentro dos contornos da riqueza plena, porém, apenas para uns poucos.
Soluço com tristeza contínua, neste mundo de quimera, sou uma frágil pessoa pendente de plenos perdões, por ter a morna esperança de felicidade, em local em que sou transformado numa bigorna à disposição da crueldade, me designada pela injusta negativa de favorecimentos.
Com as lágrimas escorrendo, vejo as estradas perenes, iguais a diamantes, a sorrir em almofadas me proibindo o acesso.
Sou um viajor abandonado nas selvas do descaso, espoliado! Vou para o martírio chicoteado... A todo o instante!
Na divisão das benesses, fico na orla esquecido, pois, a mim, sobram apenas os detritos fétidos, vis restos dos bens doados.
Ao término desses lamentos, vi muitos serem escorraçados e, sem alento no prosseguir, idênticos a mim e, muitos outros: sem... Ajuda!

A seguir, uma poesia, de minha autoria e inédita, alusiva ao texto em foco:

LAMENTOS D’ALMA

Às vezes fico a cismar
Com os olhos mareantes,
Pesquiso o éter a sonhar
Em lamentos constantes.
Procuro a felicidade
Nas dobras do infinito.
Perco-me na eternidade
Sem ecos do meu grito.

Ando em passos vacilantes
Pelas ondas da existência,
Quais embriagados errantes
Em patamares da incoerência.
Perambulo no sopé da fortuna
Igual estrume nutrindo a flor,
A miséria, a mim importuna,
Pela carência de rico pendor.

Navego na orla da vida
Em escaramuças da sorte:
Minha fé é dolorida...
Só terei valor na morte!
Vagueia minha alma sofrida
Entre os meandros da paixão
Com a fronte sempre erguida
Alimentada pelo coração.

Lamúria de minha alma ferida
Na injustiça da espoliação
Na longa estrada da vida
Em nichos de escuridão.
Reclama o espírito a dor
Da visão da fortuna plena
Na surdez do ameno amor
Sem regalia da fé serena.

Reclama, ferida, minha alma
Com a injusta discriminação
Nas veredas frias e calmas
Dos contornos da ilusão.
Lamenta minha triste alma
Entre as quimeras da vida,
Na onda do mar sem calma
Em oceanos sem guarida!

Soluça minha’ alma triste
Neste planeta de ilusões,
Frágil flor que existe
Pendente de mil perdões.
Em minha’ alma corre morna
A esperança da felicidade.
No mundo sou uma bigorna
A mercê da vil crueldade.

Com as lágrimas fluindo
Vejo as estrelas perenes
Quais diamantes sorrindo
Em almofadas solenes.
Sou um viandante solitário
Nas sendas do esquecimento,
Cuspido! Vou pra o calvário
Escarrado?... A todo o momento!

Na partilha dos benefícios
Fico nas margens soterrado,
A mim, sobram malefícios...
Vis restolhos dos Bens doados!
No limiar do pensamento
Outras vidas vislumbrei:
Esfarrapadas, sem alento,
Idênticas a mim, sem... Lei!

Sebastião Antônio Baracho.
conanbaracho@uol.com.br



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