Em dueto com José Torres...

Data 02/03/2008 01:04:02 | Tópico: Prosas Poéticas

Em dueto com José Torres



Andava a poupar palavras para as gastar contigo. Ainda bem que vieste. Tenho tanto para te dizer…
Lembras-te do dia primeiro de cada um de nós? Ainda te lembras de como éramos?
Os nossos sorrisos nadavam no rio da nossa infância, despidos das roupas que deixamos debaixo da velha árvore com braços sobre as águas.
Tu eras a mais bela das raparigas. Lembro-me de o pensar, no momento em que as nossas bocas se colaram sem dó, as nossas mãos saíram do corpo de cada um sem segredos e se cruzaram; no momento em que deixamos de ser nós e fomos um só.
A areia tinha a cor da tua pele e foi a ela que segredei teus encantos ledos.
Vestias de água nos olhos e nadavam os peixes neles. Lembras-te?
Lembras-te de tudo que não te disse nesse dia?
Tenta recordar-te…
Dói-me esse silêncio feito de todas as ausências futuras. De todas as vezes em que sozinho gritei por ti e não estavas. De todas as vezes em que não houve rio, nem peixes, nem velha árvore de braços generosos para nos tomar.
Se ao menos o tivesse dito…se tão só o tivesse feito.

Hoje, encontrei-te.
O teu sorriso não engana, tem os mesmos pássaros dentro, a mesma generosidade da primeira vez.
Reconheci-te no cheiro de rio que trazes nos cabelos, na tua pele de areia, nos teus olhos de água soltos.
Passou tanto tempo…
Quero dizer-te…com as palavras que não saíram da minha boca nesse dia, primeiro do resto de todos os dias sem luz da minha vida… que te amo.
Ouves, meu amor?
AMO-TE.
Rompo as veias ao gritar-te, a palavra que choro por dentro, água do mesmo rio onde felizes fomos e, meu amor, quisera eu ainda ter-te, trazer-te presa a mim como sempre.
Calo esta palavra tão profunda quanto intensa, balanço na corda bamba da vida com o adeus amargo a suforcar-me de veneno a garganta. O que espera o amor para se fazer sentido? O que espera?
Não ouves meus pés correndo? Não segues as minhas pegadas? Porque páras então? Porque me fazes encontrar-te? Para me atirares ao coração as lascas de um passado que sonho ser presente! Curvo a minha dor, calado e sossegado.
E Amo-te tanto ou mais do que a primeira vez, amo-te e dói sentir-te ausente e não presente como sonho tanta vez.
Pela Primeira e Última vez... AMO-TE.










Já podes ir em paz, espero recordar-te menos vezes...


Em dueto com José Torres.



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