É preciso crer, Anjo da Morte, que tu não me tardes. Que as pílulas que retenho venham ser a definitiva chave para a paz, que as fugas sempre me deram. E crer é preciso, que na escuridão do Nada, encontrarei o breu que ocultará o fogo-fátuo das teimosas decepções que substituem as esperanças teimosas. O escuro do Nada eterno, em contraponto à claridade das mesquinhas paixões que o mundo a todos obriga, no eterno e insensato compasso de querer, sem que se saiba porque se quis. É preciso crer que findará a rude tragédia, que eu, falto da antiga grandiosidade grega, represento nas sórdidas ágoras desse tempo pobre. É preciso cerrar os ouvidos e não ouvir as reprimendas de crédulos e incrédulos, pois são inocentes e só repetem as antigas e sacras maldições e as novas bobagens que os manuais de autoajuda lhes ensinam. É preciso fechar os olhos e isentar-me do triste espetáculo das faces que se julgam apropriadas censuras e sinceras tristezas. E é preciso, sobretudo, não ver o tétrico desfile das lágrimas convenientes.
Então, Anjo da Morte, depois de tudo crido, gozar o vazio que tu me promete e sentir a leveza de já não ser.
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