Fiquei neste cais vinhateiro à beira das palavras revoltas como ondas em dia de temporal, e as sílabas de gaivotas (tontas) gritaram de saudade atónita no meio do vendaval.
Os meus olhos embateram nas rochas, como muros construídos à poesia, e ainda agora a água, salgada de sal, me arranha a pele do nascer ao fim do dia.
Se a coragem destas letras me emergisse do mar profundo, não haveria prosa nem verso que não fosse o farol do mundo!
Sou a deriva da falésia onde convergem sonhos de brancos barcos,
a vela solta que entontece com os nós do quotidiano em acentos tónicos e laços lassos…
Sinto a humildade das quadras na humidade da espuma que me beija a planta dos pés e as palmas das mãos como nuvens de sumaúma…
Mas hoje irei soltar o meu melhor voo desd’este cais transversal ao mar e vou rasgar as nuvens do palato num paliativo planar entre palavras afiadas pelo silêncio e o pensamento abstrato
e por fim…
sussurrando indecências ao sol cinzento da chuva saciarei com paciência a fome de um poema no brilho casto de uma uva.