
Dissecar-se
Data 16/07/2016 18:00:02 | Tópico: Poemas
| Dissecar as próprias pernas É como eviscerar A mente e o coração, Adentrar quartos E cavernas.
É transpor as censuras E nos ver ainda Como éramos antes Das acusações E das recusas.
É ver poços e delírios Aonde vão beber A mais profunda água As feras apascentadas Pelo poeta maldito.
É ferir a própria carne E ver as entranhas Que encerram o ser Feito de vísceras Repletas de aves e infâncias.
Dissecar o próprio corpo É como trazer à vida Aquilo que jamais Foi esquecido ou morto - O fratricida!
É afundar em pântanos E ressurgir perjuro, Livre de demônios e santos, Feito apenas de músculos, Lutos e sangue.
É ser guiado Ao coração do mundo Por estradas Repletas de riscos E encruzilhadas.
É ir por um caminho Ladeado por rochas E precipícios Que não conhecem Verdades ou destinos.
Dissecar as próprias vísceras É ser conduzido Até às veias De quem fura os olhos E corta a própria orelha.
É adentrar A casa de madeira, Deitar no banco de pedra E dormir no silêncio Do nada e da treva.
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