Da tua lavra

Data 05/03/2008 23:10:30 | Tópico: Poemas

Caminho em tua direcção de noite oculta
em mãos inchadas de andar a quatro patas
vergada curva à imensidão da carga
que se anuncia maior a cada dia, a cada jornada.

Trilho-me em ângulos de luas rectilíneas
na hora última em que a língua perpassa o céu-da-boca
em que do mouchão se elevam carraçeiros em assobio,
no grito inconsequente,
no desvario infundado,
de martelos
de bigornas
em que se amolda o ferro a quente,
teceduras pele de bicho-gente.

[Do barro violento que se escorre
em enxames preenches de abelhas
a esvoaçar asas de mochos
erguem-se ímpias rosas de pedra...]

Morro em assimetrias de passos, nos olhos límpidos,
nos zimbórios roxos, nos abismos
sempre côncavos
de búzios ocos.

De tua lavra,
federa a raiz urgente de ser palavra.



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