FANTASMAS
Data 09/10/2016 08:22:41 | Tópico: Poemas -> Desilusão
| (Poderá ouvir o poema recitado pelo próprio autor, tendo como música de fundo a famosa melodia dos anos “60”, “Yesterday”, em solo, do famoso conjunto musical, “The Beatles”.)
(Para melhor se perceber o poema, convém esclarecer que o mesmo foi escrito, em alusão a circunstâncias adversas em consequência do falecimento de uma pessoa querida, em 2008, tendo o autor então se mudado para outra província do país, na sequência da qual perdeu bens materiais, bem como amigos e amigas. O poema foi, assim, escrito numa altura em que o autor se encontrava num estado de espírito bastante baixo.)
FANTASMAS
Nesta noite de sono agitado, De suores caindo no lençol molhado, Viro-me e reviro-me, Encolho-me e estiro-me, Na angústia de um repouso malfadado;
E então vejo à minha volta, Velhos amigos para abraços cordiais; Corro a abraça-los mas repassado de revolta, Vejo-os dissiparem-se, apregoando: -- Somos fantasmas e nada mais!
Vejo igualmente desde o quarto ao corredor, Bens que perdi, extintos mananciais; Salto da cama, quero-os ao meu redor, Mas logo eles se debandam, proclamando: -- Somos fantasmas e nada mais!
Também as vejo a elas, As namoradas dos meus prazeres sensuais; Levanto-me agitado, corro para elas, Mas logo elas se evolam, ciciando: -- Somos fantasmas e nada mais!
Agora sinto sobre mim como um clarão, Dois olhares francos e leais; Reconheço-os, agita-se-me o coração; Mas logo eles se evaporam, sussurrando: -- Somos fantasmas e nada mais!
Sentadas a meu lado nos dois lados da cama, Vejo agora a alegria e a bonança dos meus ais; Em delírio salto com o coração em chama, Mas vejo que elas se esfumam, murmurando: -- Somos fantasmas e nada mais!
Espectros saudosos, não me persigam! Se a esta angústia recusais trazer a cura, Cruelmente desprezando o meu convívio; Se para as passadas glórias o caminho é ínvio, E se já tendes a rota da minha desventura, Porque vindes a mim perpetuar esta tortura? Espectros saudosos, não me persigam!
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