
Maçã
Data 09/11/2016 03:03:34 | Tópico: Poemas -> Amor
| 
Maça
A morte ronda. O tiro rompe a carne, transpassa o espírito, o grito e a dor.
E, a cada sete palmos, encontra-se um corpo: é onde termina toda ambição. A terra sempre absorve o morto,
quando não há incineração, e o transforma em tantas formas, ambiguidades e fonemas. O consolo? Apenas o silêncio.
As palavras são agora árias sopradas pelos ventos, entre as negras catacumbas e a pálida capela. E, para elas,
por que tantos ornamentos assim, se tudo se acaba no tempo? Indecifrável tempo que, supremo, perde-se ao longo do infinito e faz da morte o mais bonito fim.
Não, não espere pelo poente. Prefira o sabor de um beijo ardente, dado agora, pela manhã — um beijo de língua, descarado e indecente, com gosto de maçã.
Alexandre Montalvan
|
|