Empalados #.#.#

Data 26/11/2016 01:23:20 | Tópico: Poemas

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Empalados





Os canalhas subiram ao poder
E eu sei e todos sabem, sempre estiveram lá,
Empalados pela ignorância, sempre estiveram atentos
Ao canto cruel da abastada sereia.

Morrer já não me parece tão triste,
Mas fiquei sabendo pela ciência local,
Que todos irão encontrar a devida prole
E que o amor vai designar a todos
E que não há acordo senão essa via, essa conduta.

Os canalhas matam nossos pais e nossas mães,
Matam nossos filhos e nossos netos
E, como se não bastasse, riem de si mesmos,
Porque, além de canalhas, são insanos,
Porque, além de insanos, eles nos inspiram.

Amar, tão próximo de tais atores,
Me faz desconfiar, seria Deus tão sádico
Ou é mesmo uma delicadeza muito mal compreendida?

Devo admitir que hoje estou muito triste,
Especialmente triste,
Porque em dias melhores sou apenas serenamente infeliz,
Mas hoje, especialmente hoje, dei-me o direito
De pensar nos canalhas e até me aproximar
E até assumir a minha parte nessa irmandade,
Tão vítima da inveja e de imitadores.

Meu coração pesa carregando tantas ironias e dói muito
E sufoca meus pensamentos
E me vem à mente todos os teatros absurdamente tétricos
E viro um assassino cruel e me igualo e os supero
E os arranco do poder e os faço sentar em longas varas.

Mas toda a minha valentia e sandice, eu sei,
Vai acabar na última letra desse poema e,
Continuarei sofrendo e resistindo por um tempo,
Os canalhas continuarão lá e eu bem cá, o peito doendo,
O corpo todo doendo e o mundo é mesmo assim.

O povo não sairá às ruas,
Até que outros canalhas decidam tanger esse gado
E a escolha será sempre equivocada,
Tristemente equivocada porque,
De um modo ou de outro, somos todos irmãos
E isso é mesmo um santo remédio, amargo e muito constrangedor.

E o povo sairá às ruas para dançar, sempre dançar,
A música é sempre a mesma, a injustiça e a indiferença.
Acontece que eu não sou tão estúpido quanto pareço,
Afinal, ainda consigo ouvir os gritos, eles se repetem
Ainda hoje – Soltem Barrabás e nos preguem na cruz!...




Milton Filho...



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