...dá-me um poema

Data 08/03/2008 17:23:36 | Tópico: Poemas -> Surrealistas

Da noite advém silêncio d’ancas sentadas
em talhas onde dormem
golpeadas azeitonas negras, verdes olivas.
Da noite o verbo esquerdo
d’ eólicos moinhos
parados
e o rio, o rio largo, que corre vesgo por dentro de searas
moribundas de milho-rei
de tremocilho
de lentilha
de centeio (d’anseio de te tomar), de trevo.
[Atrevo-me em harpas soltas
e solto-me
sangue no arame denteando, abocanhando os dedos].
Sorrio…

Da noite vem
o dia claro, em ondas tíbias, tépidas, ainda que frénicas.

Dá-me um poema
frio,
uma toalha branca, um lençol de linho em peça,
um tear, uma roca em roda solta,
um bastidor.
Bordarei teu nome: sinto o teu nome
na hora rouca - escorre-se-me em fogo p’los ângulos
da boca, desce-me preguiçosamente o corpo,
suor e baba, escarpas de luz. Desfolho o teu nome,
desfolho-me na cor espectral do alcatruz.

…dá-me um poema. sem tema!



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