
Desembuço dúplice
Data 11/03/2008 22:56:22 | Tópico: Poemas
| Dá-me a tua mão aberta, d’artérias estreitas e veias largas, sejam canais engrandecidos de burel e de cetim que neles, em genésica demanda, serei batel d’aurora infanta, pejado à proa de romãs, d’iluminuras aumentadas, de fruta-pão, e logo além, no mais cavado porão, de nós fruirão em casco tenras zínias de lastros adornados a espuma d’organdi.
Dá-me um cinematógrafo vazio, um mundo impoluto, um gesto franco de tão certo, um risco, um traço, um espaço aberto à fissura, ao desabrigo do tempo, [um só instante, um só momento] Seja savana Seja campina Seja tão só várzea de rio transbordante… Dá-ma, ombreada em lírica acrimoniosa que audaz desentrançarei cabelos aos astros e da Lua tomar-lhe-ei urdidos, um a um, em palanque d’orbes oblíquos, todos os silentes passos.
Dá-me a tua mão, franca, oferta, para que ai dance secreta (nua fuligem de vento), o meu no teu tempo espelhado, o teu no meu tempo espalhado - desembuço dúplice de ser e sendo, escrita solta d’égide salsa, arruamento, viela lata, retornada pérola d’ostra jazida ao suprimento.
|
|