Dossier dos silêncios

Data 10/12/2016 15:46:16 | Tópico: Prosas Poéticas

Pintei lá no azul celestial

o mesmo olhar de amor

com que desperta a proverbial

pulsante e farta manhã

rejuvenescendo fraternal



Deixo na ressaca da noite

Um eco generoso

com que me embebedo

no frutífero e saboroso

salivar das nossas bocas

sem credo nem medo

quando todo em ti me excedo

num beijo tão argucioso



Transpiro de olhar

em olhar

sedento, ansioso

por encontrar-te saltitando

no porão dos meus silêncios

e depois... devorar-te pecaminoso



Correndo vou

suscitando a tua contemplativa

anuência pelos meus abraços

Recrio a rodovia dos teus sonhos

quando alimento os desejos (in)satisfeitos

enfeitando o diploma dos nossos gemidos

desafiando pesarosos

o silêncio que estrangulo

qual criminoso



Deixo-te por encaixotar

meus erros embalsamados

em remotas e resignadas

histórias

que decanto em poesia

sentida

transtornada e dolorosa



Se tiver ainda tempo

realço novas cores

na manhã ociosa e atónita

que brame resignada

perante o ultimato desconcertante

de uma gargalhada gemendo no espectro

da noite se engalanando de estrelas

luzindo fascinadas



Saúdo minha liberdade

Supero se preciso

os medos de ser

amistoso

quando o corpo em decadência

nem suporta mais

tantas vagas ritmadas

de felicidade

onde se decide como

enfeitar de novo a vida

crepitante veloz aplaudida

morrendo depois tolerante

e desiludida



Pelos holofotes mendigando

e adormecendo a luz flagelada

vieste pra mim debruçada sem

complacências...apenas tu

revigorando cada desejo em clamor

que assim se desperta triunfante

em respostas cronometradas

no dossier dos silêncios

onde jazem nossas vidas

estreitando-se ressarcidas

alcatifando cada palavra armazenada

na alfândega do vento rugindo brando

escondido na algibeira do tempo

correndo expedito…rufando

FC


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