A mais simples fotografia do poder

Data 09/03/2008 00:51:19 | Tópico: Textos

Esta é uma história como as outras. É feita da mesma forma que quase todas, com palavras escritas que se lêem, cabe nas folhas de um livro e sai para o ar na voz de quem a lê. Esta é uma história da história.
Era uma vez, o vento que de tão ventoso soava como uma ventania.
Soprava, soprava, soprava com tanta força que fazia voar as coisas todas em que tocava. O vento era um portento e tinha orgulho do seu peito cheio e forte. Inchado e orgulhoso, sentia-se maior que um tornado... melhor que um verdadeiro furacão. Sentia-se capaz de fazer medo ao mais forte dos mais fortes.
Um dia, enquanto corria atrás dos moinhos, ouviu uma árvore pequena, tão pequena que mal se ouvia. Ela gemia:
- Assim arrancas-me deste chão que ainda mal me segura!
- Mas de que te queixas, árvore pequena? Sou forte e é dos fortes que as coisas são feitas. – retorquiu.
A árvore lá se ia encolhendo, enquanto deixava fugir algumas folhas para não tentar resistir. Fincava, um pouco mais, as raízes no chão para, de alguma forma, não ser arrastada no turbilhão.
- Vento! Vento! Deixa-me crescer e depois podes mostrar a tua força. - voltava a árvore.
O vento ignorou e continuou o seu sopro. Mas o que queria aquela árvore? Que por causa dela ele parasse de soprar? Não! De forma nenhuma! Estava decidido que não haveria nada que o convencesse a parar e, além de mais, como é que alguém poderia crescer forte se não fosse forçado a fazê-lo? Não senhor, para os fracos não há perdão... são fracos.
A árvore já quase não tinha folhas e as raízes latejavam com o esforço. Já quase deitada no chão, desistiu. Deixou a vontade de resistir e, fraca, deixou-se ir. A força da ventania arrancou-a do chão sem dó nem perdão.
Foi-se a árvore e continuou o vento.
Esta é uma história da história...

Valdevinoxis



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