
Poemas Rupestres - III (Manoel de Barros)
Data 20/12/2016 00:13:27 | Tópico: Poemas -> Intervenção
|  Por forma que o dia era parado de poste. Os homens passavam as horas sentados na porta da Venda de Seo Mané Quinhentos Réis que tinha esse nome porque todas as coisas que vendia custavam o seu preço e mais quinhentos réis. Seria qualquer coisa como a Caixa Dois dos prefeitos. O mato era atrás da Venda e servia também para a gente desocupar. Os cachorros não precisavam do mato para desocupar Nem as emas solteiras que despejavam correndo. No arruado havia nove ranchos. Araras cruzavam por cima dos ranchos conversando em ararês. Ninguém de nós sabia conversar em ararês. Os maridos que não ficavam de prosa na porta da Venda Iam plantar mandioca Ou fazer filhos nas patroas. A vida era bem largada. Todo mundo se ocupava da tarefa de ver o dia atravessar. Pois afinal as coisas não eram iguais às cousas? Por tudo isso, na Corruptela parecia nada acontecer. A poesia de Manoel de Barros (1916-2014), no ano que completaria 100 anos.
Arte por Jeremiah Morelli
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