MADEIRO DA IGNOMÍNIA!

Data 09/03/2008 14:29:04 | Tópico: Textos -> Religiosos

Ás árvores, em sua maioria nas florestas, tem o cerne endurecido e compacto, mormente, as consideradas como madeira de Lei, porém, todas elas, em seus nascedouros, medram como estiletes entre os torrões, ao rés-do-chão.
Elas vão, num crescente na vertical, enfrentando as tormentas das fortes chuvas, só vergando um pouco ante os vendavais, por não terem, ao redor, as gavinhas protetoras.
A árvore, com sofreguidão, retira o seu alimento da terra ao seu redor, todavia, com a fronte sempre erguida e altiva, mirando a abóboda celeste e, mantendo as suas raízes fortes no solo.
O seu porte ampara aos viandantes sedentos, os acolhendo à sua sombra, sem nada lhes cobrar.
Sobrevivem a muitos incêndios, recebendo várias lesões em suas arestas, também vencem as geadas de muitas estações.
MAS...
São derrotadas pelo machado, manejado com maestria, por um voraz decepante, caindo a fio comprido, seccionada de suas raízes, em um dia nebuloso, frio e... Cruel à sua extinta vida!
As suas extremidades são amputadas, reduzindo-as a toras irregulares, longarinas estreitas das carências dos homens que a exploram.
Oh! Madeira de honorável espécie, agora, lhe transformaram em... Lenha para as fornalhas de alguém! Porém, há séculos passados, para a nossa vergonha, uma sua antecedente, decepada por um machado de pedra, foi transformada em Cruz! Para o suplício de... Jesus!

A seguir, um poema de minha autoria inédita e correlata ao texto:

A CRUZ!

Oh! Lenho de cerne rijo,
Madeiro da mais pura!
Ainda ontem... Pequenino,
Medravas entre os torrões!

Crescestes mui a prumo,
Enfrentando as intempéries,
Só vergando-te aos vendavais
Por não possuíres gavinhas.

Sugavas o alimento da terra
Com voraz sofreguidão,
Fronte altiva olhando o sol,
Fortes raízes no chão.

O teu porte inebriava
Os viandantes sedentos,
Acolhendo-os à tua sombra
Sem cobrar emolumentos.

Sobrevivestes às queimadas
Com pouquíssimas lesões,
Vencestes muitas geadas
De inúmeras estações.

Mas... Não vencestes o machado,
Manejado com maestria!
Caístes a fio comprido
Numa tarde nebulosa e fria!

Serraram tuas extremidades
Transformando-te em tora,
Longarinas das necessidades
Lucro do homem que te explora.

Oh madeiro de mui qualidade!
Agora, transformado em cruz.
Para vergonha da humanidade:
Foste o holocausto de... Jesus!

Sebastião Antônio Baracho.
conanbaracho@uol.com.br


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