Um Abraço Teu...

Data 28/12/2016 14:31:27 | Tópico: Prosas Poéticas

[Outrora, apeteceu-me um abraço teu.

Daqueles abraços que trazem na pele a inocência de se querer conquistar o mundo inteiro.
Nunca, quando se é criança, se deseja menos do que o mundo inteiro.
Quando se abraça, o coração sobe à epiderme da pele e todos os sentidos palpitam no limiar da nossa ânsia de querer alcançar as nuvens e forra-las de tanto (te) querer. 

Quando me abraçavas, sentia-o como se todas as constelações me fossem pertença. 
O conjunto de estrelas edificado sobre este céu, onde continuo a ver os nossos rostos refletidos e de onde me continuam a chegar os nossos abraços, permanece no mesmo sítio onde, outrora, me deste a conhecer o teu sorriso.

Eu agarrava as bonecas de rostos rosados ao modo que caminhávamos rumo ao céu. 
No trajeto, apanhávamos amoras aos molhos. Cor vermelha. Sabor doce, tão doce. 

Cada ano que passa traz-me um céu mais presente, que nos aproxima e nos edifica sob este horizonte sem fronteiras. 
Primeiramente, desenho-o em traços finos mas bem delineados com a saudade que me deixa pensar que um dia me deixarás. 
Depois, adorno-o com algumas pinceladas que carregam a força dos teus braços a prenderem-me o corpo todo. 
Olho para ele. 
Por fim, dou por mim a contemplá-lo com a admiração da criança que continuo a ser. E fico assim: a mira-lo por tanto tempo, protegendo-o para que não me fuja.

Hoje, continua a apetecer-me um abraço teu. Continua a apetecer-me envolver o meu corpo numa inocência de afetos sem igual.

Hoje, com a inocência que me resta, continuo a abraçar-te como se fosse a última vez, muito embora não conheça um último momento de um abraço. 
Um abraço é sempre o prolongamento da vida de alguém que se vai edificando sobre o nosso peito e que sobreviverá sempre connosco. 
É este o encanto que encontro nos abraços e na inocência, qual equilíbrio de afetos, consumado encontro de vidas.

Agora, ainda que imaginando-o apenas, o meu abraço concretiza-se sob a forma de magistral prolongamento da criança que sempre serei.
Agarro nas bonecas e abraço-te mais um pouco!]


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