Um dia, eu te vi
incontida linfa
a descer da fonte
por um atalho a cantar
livre como um passarinho
para descobrires uma perdida rota
muitas pedras no caminho
escultora natural a lei da vida
moldou-te caudaloso rio
entre duas margens seguras
pra te conter a aventura
por qualquer desvio
antes, benção, do que mal
gota d'água viajante
sem remo, sem proa, sem nau
tanto ouvi os teus ais
algemada em correntes
sob verdejantes pinheirais
batias de frente em calhaus
contigo na longa jornada
o calor do sol a cintilar
e o perfume da alvorada
as estrelas o teu fanal
carícias do vento, a brisa mansa
até a próxima mudança
seixos, pétalas de luar
todo o bem que possuias corrias
e cantavas pra alcançar
tua vitória cristalina
consolo enquanto partias
até desaguar-te no mar...
Maria Lucia (Centelha Luminosa)