Que Deus lhe pague
Data 12/03/2008 00:10:29 | Tópico: Textos
| Para livrar-me de mim eu me denuncio ao silêncio que me recebe à porta dos caprichos que sustento enquanto tenho lágrimas, umidade máxima das sensações. Sou ato falho, intento vão que deu de cara com um amor cor de estanho, sem peso ou anatomia qualquer que lhe imponha o estado vertical de existir. Que eu tente explicar ao dia sua luz. Deixe-me louca e só, como me encontrou, e imunda. Que mal horrendo eu posso ter nas mãos confessas e que imaginações macabras deram-me à sua intemperança? Não quero saber. Pro inferno o saber, o pensar, calcular, conhecer. Em que lua eu fui um sorriso, meu Deus? Que azul alegre cansou-se de mim, tempestade? Ah, que droga de vida! Que sede de nada! Que caligrafia linda a minha, de presente ao nojo, e que náusea a sua! Ora, pro inferno com essa dor, com esse amor, com essa saudade! Que importa ser só, ter coração, supra-renais e cigarros? Pro inferno! Deixe-me aqui, livre de um novo passado, farta de um outro dia. Pro inferno com a piedade em pó que você me colocou na sopa para queimar-me a língua. Prefiro morrer de fome e que Deus lhe pague.
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