A SOLIDÃO DE CADA DIA

Data 24/03/2017 15:49:40 | Tópico: Poemas

A SOLIDÃO DE CADA DIA

Todos os dias, pega na velha guitarra e vai para o jardim.
Senta-se sempre no mesmo banco debaixo da magnólia.
Agora está em flor, esplendorosa. Tira a guitarra da caixa,
e faz deslizar, carinhosamente, sobre as cordas,
um pano de flanela. Retoca a afinação e ajeita-a no colo.
Começam a chegar os primeiros pombos.
Não procuram milho, ficam a cirandar
à volta do banco. Dir-se-ia que dançam.
Às vezes, um mais afoito pousa-lhe no ombro.
Quem passa, passa ao largo, para não interferir.
As cordas da velha guitarra vão rasgando
os fios da imensa teia da saudade.
Regressa ao vazio da casa, quando já se foi o sol,
e a grande noite recomeça.
HJG



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