A poesia, o tempo e o amor

Data 27/03/2017 16:17:27 | Tópico: Prosas Poéticas

[Por detrás do mundo, há a poesia. Os versos e as estrofes que te pertencem. Este é o lugar mágico onde o poeta sobrevive. Cria-te e recria-te. Cheira-te. Abraça-te como se ali estivesses. Puxa-te mais contra o peito como se quisesse prender-te para sempre. É como se a poesia fosse esta realidade toda: um conjunto ilusório de afetos que não são mais do que letras meticulosamente desenhadas sobre folhas nenhumas.
O tempo, qual abstração de vida, não é mais do que a perda dos sentidos do lugar onde a fecunda ausência nos mata e mata. Então, eu posso ser o poeta e tu esta realidade cruelmente plantada sob estes terrenos pouco férteis que, sem permissão, te levaram de mim.
Esta mescla entre aquilo que é o poeta e aquilo que desejamos que o poeta seja é sempre a ilusão de haver alguma coisa mais que sabemos que nunca será senão a solidão daquilo queremos que seja eterno e que nunca o será. Por isso, às vezes, os pássaros choram. Soluçam. Quietam-se e abeiram-se como se fossem permanecer assim para sempre.
Do outro lado do postigo, o poeta, devolvendo-te o pensamento, cobre de tinta as páginas em branco. O papel absorvera-lha as metáforas que, agora, poderás conhecer num sem-número de curvas que perfazem letras e de letras que perfazem palavras a que o poeta se agarra, depois de se ter perdido, para Te encontrar.]


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