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 Metade / por Oswaldo MontenegroData 04/04/2017 00:31:14 | Tópico: Poemas
 
 |  | Que a força do medo que tenho
 Não me impeça de ver o que anseio;
 Que a morte de tudo em que acredito
 Não me tape os ouvidos e a boca;
 Porque metade de mim é o que eu grito,
 Mas a outra metade é silêncio...
 Que a música que ouço ao longe
 Seja linda, ainda que tristeza;
 Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
 Mesmo que distante;
 Porque metade de mim é partida
 Mas a outra metade é saudade...
 Que as palavras que eu falo
 Não sejam ouvidas como prece
 E nem repetidas com fervor,
 Apenas respeitadas como a única coisa que resta
 A um homem inundado de sentimentos;
 Porque metade de mim é o que ouço
 Mas a outra metade é o que calo...
 Que essa minha vontade de ir embora
 Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
 E que essa tensão que me corrói por dentro
 Seja um dia recompensada;
 Porque metade de mim é o que penso
 Mas a outra metade é um vulcão...
 Que o medo da solidão se afaste
 E que o convívio comigo mesmo
 Se torne ao menos suportável;
 Que o espelho reflita em meu rosto
 Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
 Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
 A outra metade eu não sei...
 Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
 para me fazer aquietar o espírito
 E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
 Porque metade de mim é abrigo
 Mas a outra metade é cansaço...
 Que a arte nos aponte uma resposta
 Mesmo que ela não saiba
 E que ninguém a tente complicar
 Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer;
 Porque metade de mim é platéia
 E a outra metade é canção...
 E que a minha loucura seja perdoada
 Porque metade de mim é amor
 E a outra metade... também.
 
 
 
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