Barco

Data 26/04/2017 15:20:40 | Tópico: Poemas

Sou prisioneira neste barco a remos

Que vagueia pelo mar adentro

Procuro mas os olhos não vislumbram terra firme.

Ondulo ao saber do vento

Haste partida, velas rasgadas.

Boca sedenta sob o calor abrasador.


Os meus dedos tocam ao de leve a água

Negra. O fundo não avisto.

Sigo sem norte, sem guia, sem nada.

Fome que deixa o estômago num nó.

Deito a cabeça no chão de madeira velha.

Sussuro: “Esqueceste-Te de mim!”


Deixo-me ir. Já não resisto, não insisto.

Que me engule este mar sem dó.

Mas eis que – estarei a sonhar –

Vejo uma luz brilhante espelhada naquelas águas.

“Morri?”, pergunto na certeza da resposta.

“Será um dia a tua hora. Mas hoje ainda não.”


O barco segue a sua viagem, como se soubesse

O destino, sem precisar do meu comando.

Os braços que seguram os seus remos

Não são os meus. Os meus pés pisam

Por fim terra firme. Arrasto-me e deixo-me

Cair. Choro: “Lembraste-Te de mim!”




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