
SONHO URBANO
Data 15/03/2008 16:58:48 | Tópico: Poemas -> Esperança
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A música vinha e ia. Meu corpo flutuava. O sol surgia e divagava Atrás das nuvens. Que flutuavam e Escondiam o sol.
A porta entreabria-se Pelo vão, Deixava entrar Poeira colorida.
O ruído da rede oscilando, Misturava-se com os sons produzidos Pelas gotas de orvalho evaporando-se. Meu corpo se aquecia ao sol Que aparecia escondendo a lua. Movimentos lerdos, Um arrastar de chinelos, O gotejar de água do regador Molhando ervas sedentas.
A música que vinha da casa Acasalava-se com o canto dos cantores Dos galhos próximos, Com o tilintar dos cristais de orvalho Banidos das pétalas, Insatisfeitas com a gélida presença. O vento se chegava Com beijos baforosos. Os pássaros sacudiam as penas E cantavam agradecidos. As flores reclamavam, Medrosamente, Beijos mais carinhosos Para que não perdessem O feitiço colorido. As palmeiras, do alto, Faziam alarde. Os pequeninos grãos de areia Tomavam outros lugares E ao vento injuriavam. Batia a enxada Sofria o mato.
Gritava o caramujo Esmagado pelos pés do ordenhador. Rangiam as tetas A expelir o néctar materno. O bezerro choroso Reclamava as tetas furtadas.
O galinheiro era saqueado, Espalhava-se o pânico Entre os galináceos. Reclamavam os ovos roubados, E a companheira escolhida Para estar à mesa no almoço.
A cana contorcia-se, Soltando sangue Aos apertos da moenda. Vez por outra, Uma borboleta Competia com o beija-flor Na exploração à rosa solitária
Vez por outra Ouvia-se um bom dia, Os camponeses iam à missa, Era domingo.
Aquele torpor matinal Fazia prolongado O despertar da vida. Nossos corpos enroscavam-se na rede. Tudo aquilo fazia crescer a vontade de viver!
As buzinas haviam cessado, O ônibus seguia seu caminho Despejando e apanhando, A cada parada, Corpos sonhadores. As buzinas voltaram E a cigarra tocava, Voltei a sonhar.
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